O realismo natural de Putnam

O curso procurará apresentar e discutir aspectos centrais do realismo natural de Putnam, sua terceira tentativa de fornecer uma concepção realista sustentável em epistemologia e filosofia da ciência. Todas as suas propostas procuraram defender o realismo científico e explicar o sucesso da ciência. A primeira foi uma concepção realista metafísica, segundo a qual o mundo é uma totalidade fixa de objetos, uma única linguagem captura esse mundo, e a verdade é não epistêmica, sendo concebida como a correspondência entre essa linguagem e aquele mundo. Seus primeiros argumentos contra essa posição surgem no final da década de 70 com a defesa da relatividade conceitual, a tese de que existem diversos esquemas conceituais cognitivamente equivalentes, quando passou a articular o que chamou de realismo interno. Deixando de lado uma concepção que supunha a perspectiva do olho de Deus, ele buscou um realismo com face humana, uma alternativa ao realismo metafísico e ao relativismo cognitivo. Passou a defender uma concepção epistêmica de verdade como o que é racionalmente aceitável em condições ideais: seu verificacionismo semântico. Essa segunda tentativa foi abandonada no final da década de 80, e no início dos anos 90 passou a articular o realismo natural. Essa nova perspectiva continua a se contrapor ao realismo metafísico e a formas de relativismo cognitivo; mas essa nova via constitui também um retorno à metafísica, com a rejeição de toda forma de verificacionismo, particularmente do verificacionismo semântico, tese distintiva do realismo interno. A relatividade conceitual é mantida e procura se ajustar à tese da percepção direta; a noção de verdade, aparentemente deflacionista, preserva certa normatividade, e a justificação é relativa a valores e contextos. Com base em uma reconstrução dessas teses e de uma análise crítica de sua postura, o curso pretende apresentar como Putnam entende que o realismo natural é a melhor forma de explicar o sucesso da ciência.