Filosofia

O objetivo do curso é primeiramente apresentar as linhas gerais de uma já longa historiografia da filosofia no Brasil, ou seja, examinar as diferentes posições por meio das quais se consolidou um juízo acerca do que seja produzir filosofia no Brasil, tanto no período anterior à criação de cursos universitários de filosofia, quanto no período posterior a ela. Em seguida, serão introduzidos obras e autores do século XIX que são ilustrativos do modo como se produzia filosofia nesse campo discursivo.

O objetivo do curso é o da exposição da análise da primeira parte da trajetória filosófica de Gilles Deleuze, a qual resultou na publicação de suas duas teses de doutorado. Différence et repetition e Spinoza et le problem de l'expression (1968). Nos concentraremos sobretudo nessa primeira obra ; ela constitui com efeito a primeira expressão realizada do pensamento do autor, resultados de seus primeiros vinte anos de atividade como filósofo historiador da filosofia, e ponto de partida para a segunda parte de sua reflexão, efetuada na companhia de Félix Guattari à partir de l'Anti-Oedipe. Não obstante, o objetivo do curso não revolve em torno da reconstituição da coerência interna do pensamento de Deleuze, mas tem como eixo a compreensão tanto da ideia de conceito, quanto os conceitos empregados por Gilles Deleuze em Différence et répétition à partir de seus contextos históricos. Consideraremos essa obra como uma tentativa do autor de se inserir no campo filosófico francês dos anos 1960, em reação a outros autores como Martin Heidegger, Jean Hyppolite, Michel Foucault, Jean-Paul Sartre, Claude Lévi-Strauss...

O curso tem como objeto a conjuntura e o imaginário de criadores iletrados artisticamente, que produzem sem o intento de participar do circuito culto das artes visuais. Esses indivíduos são auto-motivados, não objetivam reconhecimento econômico nem, tampouco, estatutário. O curso aborda criação e criadores em perspectiva com o sistema de arte, considerado em suas várias instâncias (museus, mídia, crítica, artistas etc.). O objetivo é refletir sobre as certezas estáveis que envolvem o sistema de arte, bem como, seus critérios para a constituição da fortuna crítica. Visa, também, pensar a alteridade sob o vetor da imaginação, da autenticidade de uma narrativa inalienável, sem o horizonte categorial ou de quadros teóricos assentados em referências institucionais. O curso desafia os discentes a um olhar detido sobre a alteridade e seu querer-dizer, a partir dos desdobramentos decorrentes e do impacto nas interações sociais no campo expressivo, a partir dos criadores, e convergindo em sua direção.

O minicurso tem por objetivo apresentar a anti-intuitiva e controversa noção de não-ser em sua estreia histórica, com Parmênides, autêntico inventor dessa noção, e do primeiro dos seus seguidores a continuar a discussão sobre o não-ser. Embora em seu uso corriqueiro o não-ser das coisas se apresente como um conceito normal e amplamente usado, ao pararmos para uma análise mais detida descobrimos que é uma noção extremamente complexa e aporética. Desde Parmênides, essa noção despertou o interesse dos maiores filósofos: de Platão e Aristóteles, na antiguidade, até Heidegger na filosofia contemporânea e mais atualmente nos estudos de lógicas não clássicas. Parmênides parece ter captado a essência de tal noção desde o início. Todavia, a rigorosa aplicação dessa noção na interpretação do mundo o levou à negação do devir, mergulhando a análise na mais anti-intuitiva das visões: um mundo estável e sem mutação. Essa visão de um mundo sem mutação se consolida em Melisso, que todavia apresenta uma noção de não-ser diferente. Essa diferença, aparentemente pequena, se revelará ao longo da história extremamente importante e, de certa forma, deixará o não-ser der Parmênides em Segundo plano. 

Ao mesmo tempo, do ponto de vista pedagógico, a análise da noção de não-ser em Parmênides constitui um dos mais clássicos exercícios do estudo filosófico, contribuindo substancialmente à formação da mens philosophica. Este objetivo pedagógico ao lado do objetivo mais propriamente filosófico de olhar de perto a uma das noções básicas da história do pensamento ocidental resultam num passo pequeno - trata-se de um minicurso - mas muito significativo em direção à compreensão dos grande temas filosóficos da humanidade.

O objetivo do curso é fornecer ao aluno uma rápida introdução à lógica de primeira ordem, cobrindo os pré-requisitos básicos para um(a) pesquisador(a) da área. Nesse sentido, pretende-se que, ao longo do curso, a(o) aluna(o) não só adquira um repertório de resultados fundamentais da área, mas também seja introduzid(a)o a uma série de técnicas de prova importantes, ferramental básico para a lógica contemporânea.

A concepção de que a fotografia é o resultado objetivo da neutralidade da máquina, que documenta a realidade sem intervenção humana, assegurava a força empírica das imagens de indivíduos doentes no início do século XX. Através da representação visual da doença, a fotografia suscitou debates acerca da caracterização das patologias tropicais e tornou-se um elemento central tanto de diagnósticos quanto da própria definição de "trópicos". Proponho, assim, a análise de algumas fotografias produzidas nesse contexto da medicina tropical, buscando uma reflexão sobre a invisibilidade social dos indivíduos, retratados apenas para caracterizar doenças e ressaltar suas anomalias.

Disponibilizar aos estudantes de graduação e pós-graduação da USP, bem como aos interessados em geral, acesso introdutório a algumas discussões desenvolvidas a partir da filosofia e das ciências sociais, sobre projetos técnicos sensíveis aos valores de grupos no geral socialmente desempoderados, com particular atenção à engenharia popular. Buscar suscitar nos participantes interesse não apenas pela reflexão filosófica sobre a tecnologia e, em particular, sobre a engenharia, como também pela prática da engenharia popular.

O curso tem por objetivo geral introduzir aos(as) participantes algumas das teorias da justiça mais importante da segunda metade do século XX, fornecendo subsídios conceituais para a compreensão e participação academicamente orientada nos debates contemporâneos sobre justiça social. Alguns dos principais problemas filosóficos suscitados pelo estudo de teorias da justiça são: (i) O que é justiça social e com base em quais critérios podemos dizer de uma sociedade que ela é justa ou injusta?; (ii) Qual a natureza das teorias da justiça? Qual a sua fundamentação e o seu conteúdo?; (iii) Qual a métrica adequada de distribuição em uma sociedade igualitária?; (iv) Será a igualdade um valor moral independente? Qual a relação da igualdade com valores igualmente valiosos, como a liberdade e a fraternidade?; (v) Qual é o papel de teorias da justiça na crítica social?



Para efeitos de organização, o curso tomará como referência teórica central a obra de John Rawls. Mais especificamente, serão apresentadas e debatidas as teorias da justiça pré e pós-publicação de Uma Teoria da Justiça (1971). As leituras propostas para o curso foram pensadas de forma a abarcar tanto aquelas(es) participantes que estão tendo contato inicial com a discussão, como também aquelas(es) participantes mais avançados, que já pesquisam em áreas correlatas. Na última seção do curso - e caso a proposta tenha apoio entre as/os participantes - será aberto um espaço para a discussão metodológica sobre como escolher e pesquisar problemas de justiça na filosofia política contemporânea.

Trata-se de apresentar o problema da técnica como modo privilegiado da relação entre o ser vivo e seu meio na obra do filósofo e historiador das ciências Georges Canguilhem (1904-1995). Com ênfase nas publicações, aulas e conferências feitas entre 1937 e 1947, nosso comentário procurará pontos de entrelaçamento entre a produção intelectual do autor e sua própria trajetória. Como surge o problema da técnica para Canguilhem, como ele o conserva e, finalmente, como dá a ele um tratamento original? Qual é o lugar das obras de Henri Bergson e de Gaston Bachelard na produção intelectual de Canguilhem entre 1937 e 1947, e, sobretudo, por que a relevância da medicina se avulta aos olhos do autor nesse mesmo período? Por que a técnica não se define como ciência aplicada, e por que a ciência não precede a realidade centrada "no meio próprio do homem"? Enfim, por que, segundo Canguilhem, "o nascimento, o devir e os progressos da ciência (...) devem ser compreendidos como uma espécie de empreitada bastante arriscada da vida"? Tentaremos responder a essas e outras perguntas nos quatro encontros assim organizados.

Apresentar a filosofia moral de Adam Smith através de uma análise da obra A Teoria dos Sentimentos Morais.