Programa

Aula 1 – A figuração indígena em A Confederação dos Tamoios de Gonçalves de Magalhães (1856)
 
A Confederação dos Tamoios (1856) reconfigura um passado imemorial no qual a fundação do Rio de Janeiro ocorre a partir do sacrifício tamoio na resistência contra o invasor português. Comprometido com a construção de uma nacionalidade brasileira, o poema épico A Confederação dos Tamoios se filia diretamente ao projeto historiográfico de cunho literário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) financiado por d. Pedro II. Essa primeira aula do curso tratará da representação indígena no poema e da centralidade da obra de Magalhães enquanto referencial épico para as subsequentes narrativas.
 
 
Aula 2 – A crítica à escravidão em Meditação (1850) e a caraterização indígena no poema d’Os Timbiras (inacabado) de Gonçalves Dias
 
Na prosa poética inacabada Meditação (1850), Gonçalves Dias converge a dura crítica à escravidão enquanto fundamento econômico da sociedade oitocentista à defesa do trabalho livre, por meio da valorização de uma essência mítica indígena da cultura brasileira, encontrada incólume apenas no período prévio à violenta invasão portuguesa. Desdobramento épico de Meditação com o qual constitui um díptico de denúncia à política imperial luso-brasileira de extermínio indígena, os quatro cantos existentes d’Os Timbiras (inacabado) exibem um potencial descritivo que confere um tratamento enargético à natureza animada e ao elemento humano. Esta aula visa refletir sobre os procedimentos literários empregados na caracterização da figura do indígena, tendo em vista o período de composição da obra marcado por tensões políticas posteriores à aprovação do Aberdeen Act (1845) e à turbulência das revoltas regenciais.
 
Aula 3 – A representação negra em A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) e A República de Palmares (inacabada) de Castro Alves
 
Esta aula objetiva apresentar e discutir aspectos da poética de Castro Alves referentes à figuração do herói negro por meio da análise dos poemas A Cachoeira de Paulo Afonso e A República de Palmares, que comporiam um projeto integral de uma obra abolicionista. As temáticas da denúncia dos horrores da escravidão, do republicanismo e da iminência das revoltas escravas e populares surgem nos poemas como resposta a questões históricas e políticas prementes das últimas décadas do Segundo Reinado, reverberando, ainda, ecos dos poemas do livro d’Os Escravos.
 
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