Programa

EMENTA
Carga horária: O curso está composto por três aulas de 2hs cada, que serão ministradas na quarta (22), quinta (23) e sexta (24) de julho. Em relação à dinâmica, a primeira hora será expositiva e a outra será reservada para a discussão do tema abordado. Totalizando assim, em 6hs.
Objetivo: O curso tem como objetivo contribuir na fundamentação teórica sobre o campo político latino-americano e seus desdobramentos para compreender como as relações de poder e dominação, a violência simbólica e os discursos conservadores implicam diretamente na atuação política das mulheres. Ao mobilizar um mosaico de leituras sociológicas desde os mais variados prismas como o quantitativo, bourdieusiano e da teoria crítica sobre um mesmo objeto em comum, buscamos fomentar debates respaldados por uma visão ampla sobre como se pode interpretar o acesso, a participação e representação política no âmbito das disputas eleitorais.

CONTEÚDO

I. Um panorama sobre a representação política
II. Afetos, Neoliberalismo e Antifeminismo
III. As dinâmicas do campo do poder e o capital erótico

O curso está dividido em três momentos distintos, sendo o primeiro, destinado a esboçar um panorama histórico e social através da apresentação de dados obtidos na pesquisa “Cotas de gênero, representação feminina e políticas de defesa dos direitos das mulheres na América Latina”. Nesse momento, será apresentado uma reflexão sobre como os dezenove países latino-americanos entre os anos de 1990 a 2017 lidaram com a lei de cotas de paridade de participação política feminina observando quais as garantias institucionais de defesa dos direitos das mulheres e a eficácia desse tipo de legislação.

Já no segundo tópico, após a explanação desse cenário do campo político latino-americano e como se dá em termos institucionais a representação política feminina, será analisada a ascensão da nova direita no continente tendo como chave a relação dos afetos com a política. Autores como Espinosa, Freud, Adorno têm sido retomados para se pensar o processo de formação de identidades coletivas e sua corporificação em diversas emoções como: o desamparo, o ódio, o medo, a angústia, a aversão, a esperança, a insegurança, a raiva, o ressentimento. Em um contexto de fortificação dos governos de ultradireita, cujos pilares de sustentação encontram-se na moralidade, na antidemocracia, nos desmontes da solidariedade social e orientam-se por lógicas neofascistas, neoconservadoras, racistas e masculinistas, a discussão de agentes políticas que negam as lutas travadas por movimentos feministas na contemporaneidade, bem como, a ascensão destas no parlamento será a tônica na discussão.

Ao passo que no terceiro momento, já tendo perpassando por duas abordagens bastante distintas sobre a representação política, teremos o respaldo da teoria bourdieusiana para a compreensão dessas dinâmicas em uma perspectiva dos campos, focalizando as especificidades do campo do poder e suas disputas. O que nos interessa nesse momento é verificar como ocorre a formação de determinado agente político, que independente de seu sexo e gênero, precisa adquirir e incorporar determinadas credenciais legítimas e legitimadas - pelo campo e seus pares - para acessar e permanecer nesse espaço. Pretende-se observar, por meio das análises dos capitais (cultural, econômico e social) de agentes reconhecidas, como as trajetórias de sucesso escolar e político se confluem, e cujo recorte de gênero pode aparecer enquanto uma resposta ao campo. Lançando, por fim, uma reflexão sobre os limites e potencialidades do conceito de capital erótico desenhado por Catherine Hakim (2011) para se pensar nos desdobramentos da violência simbólica no âmbito das elites políticas latino-americanas.
Esse mosaico de leituras sociológicas desde os mais variados prismas como o quantitativo, bourdieusiano e da teoria crítica sobre um mesmo objeto em comum, buscarão fomentar debates respaldados por uma visão ampla sobre como se pode interpretar o acesso, a participação e representação política feminina no âmbito das disputas eleitorais.

Leituras sociológicas sobre representação política feminina latino-americana

PROGRAMA DO CURSO

1ª aula: Um panorama sobre a representação política

Bibliografia principal
ARAUJO, Clara. Partidos políticos e gênero: mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política. Rev. Sociol. Polit. [online]. 2005, n.24, pp.193-215.

MOREIRA, Natália de Paula & BARBERIA, Lorena Guadalupe. Por que elas são poucas? Uma revisão sobre as causas da baixa presença de mulheres no Congresso brasileiro. BIB, São Paulo, n. 79, 1º semestre de 2015 (publicada em outubro de 2016), pp. 38-56.

RIOS, Flavia; SOTERO, Edilza. Gênero em perspectiva interseccional. PLURAL, Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.26.1, 2019, p. 1-10.
Bibliografia complementar
ARCHENTI, Nélida; ALBANE, Laura. O feminismo na política: paridade e violência política de gênero na América Latina. In: Cadernos Adenauer XIX Participação política feminina na América Latina, (1): 9-24, 2018.

RIOS, Flavia; PEREIRA, Ana Claudia; RANGEL, Patrícia. Paradoxo da igualdade: gênero, raça e democracia. Cienc. Cult., São Paulo, v. 69, n. 1, Mar. 2017, p. 39-44.

2ª aula: Afetos, Neoliberalismo e Antifeminismo

Bibliografia principal
BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: A ascensão da política antidemocrática no ocidente, São Paulo, Editora Politéia, 2019.

FRASER, Nancy; JAEGGI, Rahel. Capitalismo em debate: Uma conversa na teoria crítica. São Paulo, Editora Boitempo, 2020.

SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos. São Paulo: Editora Autêntica, 2016.

Bibliografia complementar
ILLOUZ, Eva. O amor nos tempos do capitalismo. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2011.

TRAVERSO, Enzo. Las caras de la nueva derecha. Editora Siglo XXI, Argentina, 2018.

ZEKTIN, Clara. Como nasce e morre o fascismo. São Paulo, Editora Autonomia literária, 2019.

3ª aula: As dinâmicas do campo do poder e o capital erótico

Bibliografia principal
BOURDIEU, Pierre. O campo político. In: Revista Brasileira de Ciência Política, n. 5, p. 193-216, 2011.

HAKIM, Catherine. O que é o capital erótico? In: Capital erótico. Rio de Janeiro: Best Business, 2012. pp. 17-41.

PESTAÑA, José Luis Moreno. Una historia de la capitalización del cuerpo. In: La cara oscura del capital erótico: capitalización del cuerpo y trastornos alimentarios. Ediciones Akal, 2016. pp. 15-40.
Bibliografia complementar
BOURDIEU, Pierre. Uma imagem ampliada. In: A dominação masculina: A condição feminina e a violência simbólica. Tradução de Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Ed. BestBolso, 2014. pp. 17-80.

CATANI, Afrânio Mendes et al. Vocabulário Bourdieu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Trad: Sonia MS Fuhrmann. Petrópolis, Rio de Janeiro, 2007.

OLIVEIRA, Ricardo Costa de (Org.). Nepotismo, parentesco e mulheres. 2ª ed. Curitiba: Urbi et Orbi, 2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Ronaldo; TONIOL, Rodrigo (org). Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos. Campinas, Editora Unicamp, 2018.

ARRUZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy Feminismo para os 99%. Um manifesto. São Paulo, Boitempo Editorial, 2019.

AVELAR, Lúcia. Mulheres na elite política brasileira. Editora UNESP, 2001.

BEST, Heinrich; HIGLEY, John (Eds.). The Palgrave handbook of political elites. London: Palgrave Macmillan, 2018.

BIROLI, Flávia & MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução. Boitempo, 2014.

BOURDIEU, Pierre; BOLTANSKI, Luc. La production de l'idéologie dominante. Actes de la recherche en sciences sociales, v. 2, n. 2, p. 3-73, 1976.

BLAY, Eva; AVELAR, Lucia; RANGEL, Patricia Duarte. 50 anos de feminismo: Argentina, Brasil e Chile. Volume ii – Justiça de Gênero e Políticas Públicas (no prelo).

CODATO, Adriano. A formação do campo político profissional no Brasil: uma hipótese a partir do caso de São Paulo. In: Revista de Sociologia e Política, v. 4, n. se, p. 0-0, 2008.

DE IMAZ, José Luis. Los que mandan. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1964.

SOLANO, Esther. O ódio como política: A reinvenção das direitas nos Brasil. São Paulo, Editora Boitempo, 2018.

TRAVERSO, Enzo. Las caras de la nueva derecha. Editora Siglo XXI, Argentina, 2018.

VENTURI, Gustavo; RECAMÁN, Marisol. As Mulheres Brasileiras no Início do Século 21. São Paulo: cfemea, 2005.

WRIGHT MILLS, C. A elite do poder. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.