Programa

Objetivo: Através de uma investigação das motivações que levam seu personagem Sócrates ao diálogo filosófico, apresentar a concepção do Platão ‘maduro’ sobre o que é a filosofia. Em resumo, trata-se de mostrar como a filosofia é simultaneamente resultado de e estímulo a um desejo inscrito na alma humana, e não algo que se realiza apenas com a obtenção ou codificação do conhecimento. O curso explora a imagem do personagem Sócrates como epítome de uma vida vivida tendo a filosofia como paixão central. Platão pinta um personagem cujas ações demonstram a indissociabilidade entre a filosofia e erôs, a motivação socrática constante. A imagem se faz especialmente vívida nos diálogos discutidos nas últimas duas aulas do curso – o Banquete e o Fedro –, nos quais Platão usa um vocabulário erótico para mostrar como o desejo filosófico é indistinguível do amor. É, afinal, desejo pela realização do irrealizável, ou pela obtenção do ‘inobtenível’: alcançar o conhecimento da verdade.

Planejamento das aulas: O curso terá quatro encontros de 2h, realizados através do Google Meets. A bibliografia será disponibilizada através de uma pasta do Google Drive.

Aula 1: Sócrates, humano que não se conforma Leitura obrigatória: A ‘digressão’ da Apologia de Sócrates (28a-34b; é fortemente recomendada a leitura do texto inteiro) Tema: o indivíduo contra a cidade; o amor como força de inconformidade

Aula 2: O erôs socrático em ação Leitura obrigatória: A ‘alegoria da caverna’ - República (514a–517e; é recomendada a leitura ao menos do livro 7 da República; e é sugerida a leitura do diálogo inteiro) Tema: o amor como combustível do filosofar; a vergonha social como grilhão, a vergonha amorosa como libertadora.

Aula 3: O erôs: desejo pelo incognoscível Leitura obrigatória: O ‘Grande Discurso’ de Sócrates do Fedro (244a-257b; é sugerida a leitura do diálogo inteiro) Tema: O amor como elemento na alma de origem inexplicável que impele ao conhecimento; a construção de uma imagem plausível do conhecimento; o uso do discurso mítico para falar do inefável. Retratos da alma do filósofo.

Aula 4: O amor de Sócrates Leitura obrigatória: O discurso de Sócrates no Banquete (200a-211b; é sugerida a leitura do diálogo inteiro). Tema: o daimon, representação do erôs de Sócrates. O amor filosófico como conexão entre a alma e o cosmo. Retrato do despertar do filósofo à filosofia.

 

Bibliografia básica:

Platão, Apologia de Sócrates. Tradução de Andre Malta. Rio de Janeiro: L&PM, 2013.

Platão, Fedro. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: edufpa, várias edições. (nota: são excelentes, ainda que mais difíceis de obter online, as traduções de M.C.G. Reis, J. Ferreira e J.C. Souza)

Platão, O Banquete. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: edufpa, várias edições. (nota: é excelente, ainda que mais difícil de obter online, a tradução de J.C. Souza)

Platão, República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Goulbenkian, s.d. (também é recomendada a tradução de A.L. do A. Prado)

 

Bibliografia suplementar (comentários completos dos diálogos trabalhados, acessíveis a leitores recentes de Platão):

Annas, J. An Introduction to Plato’s Republic. Oxford: Clarendon, 1981.

Brickhouse, T.C. e Smith, N.D. Routledge Philosophy GuideBook to Plato and the Trial of Socrates. Nova York: Routledge, 2004. (nunca leu nenhum comentador de Platão? Comece com este!)

Hackforth, R. Plato’s Phaedrus. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

Hunter, R. Plato’s Symposium. Oxford: Oxford University Press, 2004.

 

Bibliografia especializada (utilizada na elaboração do curso)

Ambury, J.M. (2017) Dialectical Epimelia: Platonic care of the soul and philosophical cognition. Plato Journal, Vol. 17.

Barney, Rachel, 2008, “Eros and Necessity in the Ascent from the Cave,” Ancient Philosophy, 28(2): 357–372.

Brickhouse, T. S. e Smith, N.D. (1989) Socrates on trial. Princeton, NJ: Princeton Univ. Press.

Burkert, W. (1991) Greek Religion. Maiden, MA: Blackwell (e-book).

Corrigan, K. e Glazov-Corrigan, E. (2004). Plato’s dialectic at play: argument, structure, and myth in the Symposium. University Park, PA: The Pennsylvania State University Press.

Dover, K. J. (1978) Greek Homosexuality, Cambridge, Mass.: Harvard University Press.

Ferrari, G.R.F. (1992), “Platonic Love,” in R. Kraut  (ed.), The Cambridge Companion to Plato. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 248–276

Ferrari, G.R.F. (ed.) (2007). The Cambridge Companion to Plato’s Republic. Cambridge: Cambridge UP.

Foley, Richard, (2010) The Order Question: Climbing the Ladder of Love in Plato’s Symposium, Ancient Philosophy, 30(1): 57–72.

Griswold, C. Self-Knowledge in Plato’s Phaedrus. Princeton: Princeton UP, 1988.

Gordon, J. O mundo erótico de Platão. Rio de Janeiro: Loyola, 2012.

Lebeck, A. (1972) The Central Myth of Plato's Phaedrus. Greek, Roman and Byzantine studies, pp. 267-290.

Ludwig, P. (2007), “Eros in the Republic,” in G.R.F. Ferrari (ed), The Cambridge Companion to Plato’s Republic, Cambridge: Cambridge Univ Press, pp. 202–231.

Nightingale, A. (1995) Genres in dialogue: Plato and the construct of Philosophy. Cambridge: Cambridge UP.

Press. G.A. (ed.) (2000) Who Speaks for Plato? Studies in Platonic Anonimity. Lanham: Rowman and Littlefield.

Werner, D. Myth and Philosophy in Plato’s Phaedrus. Cambridge: Cambridge UP, 2011.

Yunis, H. (2005) Eros in Plato’s ‘Phaedrus’ and the Shape of Greek Rhetoric. Arion, Third Series, Vol. 13, No. 1 (Spring - Summer, 2005), pp. 101-126

Yunis, H. (ed., intro. Estabelecimento do texto grego) (2011). Plato: Phaedrus. Cambridge: Cambridge University Press.