Programa

Apresentação

Este curso se destina a professores, alunos/as, funcionários/as, profissionais ou amantes do mundo dos livros e das letras, que desejam se aprofundar em temas e tópicos relacionados a sociologia e as possibilidades de análise e compreensão que ela oferece sobre o universo literário. Seja como um ponto de vista privilegiado e/ou como uma especialidade acadêmica relativamente autônoma.
O curso abordará autores clássicos que pensaram a literatura e sua relação com o mundo social, seja, refletindo acerca dos produtores literários, ou sobre as formas de circulação e consagração, ou sobre os intermediários e mediadores culturais que conferem valor literário a obras e autores.
Assim, os assuntos abordados convergem na demonstração de que mais do que uma disciplina acessória a compreensão dos fenômenos literários, a sociologia é uma forma de conhecimento/saber central para a compreensão dos mundos da literatura e de seus agentes.


Objetivo

Apresentar para os/as matriculados/as no curso temas e tópicos de diversas correntes da sociologia e/ou da crítica literária que auxiliem a compreensão de fenômenos literários contemporâneos e do passado.
Oferecendo assim uma pluralidade de ferramentas e possibilidades de enquadramentos teóricos e analíticos que sirvam para os/as estudantes se nortearem em suas práticas profissionais ou acadêmicas.


Tópicos

Sociologia Transnacional da Literatura
A sociologia da literatura de Pascale Casanova


Cronograma e avaliação

O curso terá duração de 1 semana, com 4 aulas com duração de 1 hora e trinta minutos a 2 horas. Dias 21, 22, 23 e 24 de julho, das 17:00 às 19:00.
Cada aula terá por volta de 2 horas e meia a 3 horas.
Para cada dia haverá alguns textos indicados para leitura que serviram de base para a reflexão do conteúdo a ser discutido.

Ao final e opcionalmente o/a aluno/a poderá entregar uma resenha de alguns dos textos lidos durante o curso, e/ou um projeto de pesquisa que envolva alguns dos temas debatidos em aula, e/ou breve trabalho reflexivo sobre alguns dos temas/autores (no máximo 10 páginas, parágrafo de 1,5cm, letras times new roman 12, excluída a bibliografia).


Tópico - Sociologia Transnacional da Literatura

Apresentação

Esta aula visa introduzir uma temática da área de sociologia da literatura que diz respeito aos estudos de enfoque transnacional do universo literário. Tal enquadramento de análise visa colocar em suspensão categorias naturalizadas nos estudos literários e na sociologia da literatura, a saber: nação, língua, fronteiras, etc.
O enfoque transnacional da sociologia da literatura permite compreender como nações, áreas linguísticas, editoras, escritores e agentes literários estão em disputas e alianças para traçar novas fronteiras, alargando algumas e apagando outras. A luta pela consagração e pela circulação de obras e autores envolve disputas por traduções, prêmios e aparições públicas que frequentemente desenham um percurso no espaço global que transpassa fronteiras nacionais, de mercado e simbólicas.

Objetivo

Apresentar sucintamente a origem dos estudos transnacionais na sociologia da literatura bem como suas possibilidades de aplicação para pesquisas e trabalhos acadêmicos. Descrever as formas de abordagem de objetos a partir de um olhar que privilegia a transnacionalidade como enquadramento fundamental para a explicação e compreensão de fenômenos literários contemporâneos.


Leituras indicadas

BOURDIEU, Pierre. Les conditions sociales de la circulation internationale des idées. In: Actes de la recherche en sciences sociales. Vol. 145, décembre 2002. La circulation internationale des idées. pp. 3-8. DOI : https://doi.org/10.3406/arss.2002.2793 . Disponível em: www.persee.fr/doc/arss_0335-5322_2002_num_145_1_2793

JURT, Joseph. Campo literario y Nación. In: JURT, Joseph. Naciones Literarias: una sociología histórica del campo literario. Villa María: Eduvim, 2014, p. 15 a 49.

SAPIRO, Gisèle. A noção de campo de uma perspectiva transnacional: A teoria da diferenciação social sob o prisma da história global. Plural, v. 26, n.1, p. 233-266, jul. 2019.

MORETTI, Franco. Conjunctures on World Literature. New Left Review, Londres, n. 1, p.54-68, jan./fev. 2000. Disponível em: . Acesso em: 21 jan. 2018.



Bibliografia Complementar

BOURDIEU, Pierre. Uma revolução conservadora na edição. Política & Sociedade, v. 17, n. 39, p. 198-249, 2018. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2017v17n39p198
CHARLE, Christophe. Homo Historicus: reflexões sobre a história, os historiadores e as ciências sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS; Rio de Janeiro: FGV, 2018.

CASANOVA, Pascale. A república mundial das letras. São Paulo: Estação liberdade, 2002.

CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. O mercado do livro didático no Brasil do século XXI: a entrada do capital espanhol na educação nacional. São Paulo: Editora UNESP, 2013.

ENGLISH, James F. The economy of prestigie: Prizes, awards, and the circulation of cultural value. Cambridge: Harvard University Press, 2005.

JURT, Joseph. Naciones Literarias: una sociologia historica del campo literario. Villa María: Eduvim, 2014

MUNIZ, JR., José de Souza; SZPILBARG, Daniela. Regimes de visibilidade no mercado editorial globalizado: Brasil e Argentina como convidados de honra na Feira do Livro de Frankfurt. In: Encontro Anual da Anpocs, 38., 2014. Caxambu (MG). Anais eletrônicos..., São Paulo: Anpocs, 2014. Disponível em: < https://www.academia.edu/9674541/Regimes_de_visibilidade_no_mercado_edi…;. Acesso em: 31 maio 2017.

SAPIRO, Gisèle. The literary field between the state and the market. Poetics, [s.l.], v. 31, n. 5-6, p.441-464, out. 2003. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.poetic.2003.09.001. Acesso em: 13 abr. 2017.

______. Elementos para uma história do processo de autonomização. Tempo social, São Paulo , v. 16, n. 1, p. 93-105, Jun. 2004 . Disponível em: . Acesso em: 14 Jul. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-20702004000100005.

______. La Sociologie de la Littérature. Paris : La Découverte, 2014.

______. How Do Literary Works Cross Borders (or Not)? Journal Of World Literature, [s.l.], v. 1, n. 1, p.81-96, 1 jan. 2016a. Brill Academic Publishers. http://dx.doi.org/10.1163/24056480-00101009.

______. The metamorphosis of modes of consecration in the literary field: Academies, literary prizes, festivals. Poetics, [s.l.], v. 59, p.5-19, dez. 2016b. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.poetic.2016.01.003.

SAPIRO, Gisèle et al. L’amour de la littérature : le festival, nouvelle instance de production de la croyance. Actes de La Recherche En Sciences Sociales, [s.l.], v. 206-207, n. 1, p.108-137, 2015. CAIRN. http://dx.doi.org/10.3917/arss.206.0108.

SORÁ, Gustavo. Os livros do Brasil entre o Rio de Janeiro e Frankfurt. Bib: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 41, p.3-33, 1996. Semestral. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2017.

______. Tempo e distâncias na produção editorial de literatura. Mana, Rio de Janeiro , v. 3, n. 2, p. 151-181, Oct. 1997 . Disponível em: . Acesso em: 31 mai. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93131997000200005.

______. Frankfurt y otras aduanas culturales entre Argentina y Brasil: Una aproximación etnográfica al mundo editorial. Cuadernos de Antropología Social, n. 15, 2002, p. 125-143.

______. El mundo como feria. In(ter)dependencias editoriales en la Feria de Frankfurt. Comunicación y Medios, n. 27, 2013, p. 102-128. Disponível em: < http://www.eduvim.com.ar/sites/default/files/descargas/Crear%20Descarga…;. Acesso em: 31 maio 2017.

THOMPSON, Jonh B. Mercadores de cultura: o mercado editorial no século XXI. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

Tópico 2 - A sociologia da Literatura de Pascale Casanova

Apresentação

A pesquisa com uma visada internacional, que procura relacionar, dentro do jogo de produções simbólicas, as relações de dependência e dominação que se estabelecem entre países, tem hoje, na sociologia da cultura, lugar central. Pascale Casanova publicou diversas obras em que esta temática é explorada: Beckett l'abstracteur: anatomie d'une révolution littéraire (1997), A República Mundial das Letras (1999) e Kafka en Colère (2011), trabalhos em que procurou entender a produção da literatura nos termos de um “espaço literário mundial” concreto em que há disputas sobre o que é ou não literário, campos de força que “comandariam as formas dos textos” que circulam por toda parte do mundo, um universo que tem um centro encastelado em línguas e que estabelece assim suas províncias e seus confins. Deste modo, como no trabalho sobre Kafka, ela expõe de modo mais explícito as relações de dominação que comandam o jogo literário, ou seja, para entender a obra do escritor tcheco, ela coloca em peleja a sua relação com o judaísmo, a condição de tcheco no interior do império austríaco, assim como as assimetrias entre as literaturas alemã e tchecas como determinantes para entender o percurso literário do escritor de A metamorfose.

Objetivo

O curso pretende, portanto, a apresentação de sua obra, intentando elaborar os temas centrais de sua discussão.
Leitura indicada:

“Princípios de uma história mundial da literatura” in.CASANOVA, P. A República Mundial das Letras. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. p. 23-61

“As Pequenas Literaturas” in.CASANOVA, P. A República Mundial das Letras. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. p. 23-61

“A tragédia dos ‘homens traduzidos’” in.CASANOVA, P. A República Mundial das Letras. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. p. 23-61

Obras da Autora

Beckett l'abstracteur. Anatomie d'une révolution littéraire, Éditions du Seuil, 1997
La République mondiale des Lettres, Éditions du Seuil, 1999
Kafka en colère, Éditions du Seuil, 2011
La Langue mondiale, Éditions du Seuil, 2015
« Le méridien de Greenwich : Réflexions sur le temps de la littérature », dans Qu'est-ce que le contemporain ?, textes réunis par Lionel Ruffel, Editions Cécile Defaut, 2010, p. 113-145.
« Beckett chez les philosophes », dans The Florence Gould Lectures at New York University, vol. vii, 2007-2008.
« Et Blanc », dans Objet Beckett, Centre Pompidou / IMEC Editeur, 2007.
(en) « The Ibsen Battle : Comparative analysis of the Introduction of Henrik Ibsen in France, England and Ireland », dans Anglo-French attitudes : Comparisons and transfers between English and French Intellectuals since the eighteenth century, dir. C. Charle, J. Vincent et Jay Winter, Manchester University Press, 2007.
(en) « Literature as a world », dans New Left Review, no 31, janvier/février 2005.
« Littérature et philosophie : malentendu structural et double instrumentalisation. Le cas de Samuel Beckett », dans L’Écrivain, le Savant et le philosophe. La littérature entre philosophie et sciences sociales, dir. Eveline Pinto, Publications de la Sorbonne, 2003.
« Littérature secondaire et consécration : Le rôle de Paris », dans L'Œuvre et son ombre : Que peut la littérature secondaire ?, dir. Michel Zinc, Éditions de Fallois, 2002.
« Kafka en France : Éléments pour une critique de la critique », dans Le Texte et le Contexte. Analyses du champ littéraire français, dir. Michael Einfalt et Joseph Jurt, Verlag Arno Spitz / Éditions de la Maison des Sciences de l’Homme, 2002.
« Consécration et accumulation de capital littéraire. La traduction comme échange inégal », dans Actes de la Recherche en Sciences Sociales, no 144, septembre 2002 (Traduction : les échanges littéraires internationaux) Texte intégral [archive]. Traduction en anglais dans Critical Concepts: Translation Studies, dir. Mona Baker, Routledge, 2002, 4 volumes.
« Paris, Capitale littéraire », dans les actes du colloque international Capitales culturelles, capitales symboliques. Paris et les expériences européennes (xviiie – xixe siècle), dir. Christophe Charle et Daniel Roche, Publications de la Sorbonne, 2002.
« D'un usage littéraire et affectif de la philosophie dans l'œuvre de Samuel Beckett », dans Samuel Beckett Today / Aujourd'hui, no 9, 2000 (L'affect dans l'œuvre beckettienne, dir. Buning Marius, Engelberts Matthijs et Houppermans Sjef).
« World fiction », dans Revue de littérature générale. 96/2 Digest, P.O.L, 1996, texte no 6.
« Littérature et histoire : interpréter l'interprète », Revue d’histoire moderne et contemporaine 5/2004 (no 51-4 bis), p. 43-47.