Programa

Justificativa: Silenciadas por uma historiografia tradicional, as experiências de mulheres escravizadas, libertas, libertandas e livres pobres no Brasil do século XIX têm sido objeto de novas abordagens desde a década de 1980. Um dos objetivos destas contribuições historiográficas têm sido resgatar os modos como aquelas viveram, sobreviveram, resistiram, construíram relações entre si e com os outros – de solidariedade e de conflito – e responderam às estruturas de poder, alçando-as à condição de sujeitos históricos. No entanto, a maior parte das reflexões propostas estão circunscritas ao ambiente acadêmico, de modo que a difusão de tais debates ao público não especializado se mostra necessária. Nesse sentido, neste curso, pretendemos expor um panorama dos temas caros a uma história das mulheres e das relações de gênero que se debruça sobre o período oitocentista brasileiro, a saber, escravidão, liberdade, maternidade, trabalho, corpo e acesso à cidadania. Para tanto, utilizaremos como recursos e ferramentas para as atividades virtuais: encontros ao vivo pelo Google Meet, apresentações didáticas através do Google Apresentações e disponibilização de textos no Google Drive, bem como o atendimento de dúvidas por e-mail.

Objetivos: O objetivo deste curso é apresentar ao público as principais questões que envolvem os estudos sobre escravidão e pós-abolição na perspectiva de gênero, sobretudo a história de mulheres escravizadas, libertas, libertandas e livres pobres no Brasil do século XIX. O curso pretende fomentar discussões que levem a uma compreensão da importância e centralidade de marcadores sociais de diferença social, como raça e gênero, dentro de uma sociedade escravista como o Brasil, e de que maneira isso se reflete na construção da cidadania e desigualdades presentes no Estado brasileiro.
Carga horária: 12h



Conteúdo/Cronograma das Aulas:
Aula 1 - Escravidão, liberdade e gênero no século XIX
Professoras ministrantes: Caroline da Silva Mariano, Caroline Passarini Sousa, Giovana Puppin Tardivo, Lígya Esteves Sant’Anna de Souza e Marina Camilo Haack
Leitura da aula: GRINBERG, Keila; PEABODY, Sue. Escravidão, liberdade e direito no atlântico escravista. In: GRINBERG, Keila; PEABODY, Sue. Escravidão e Liberdade nas Américas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2013, p. 7-24.
MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Mulher, Corpo e Maternidade. In: SCHWARCZ, Lilia; GOMES, Flavio (orgs.). Dicionário da Escravidão e da Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 334-340.
Aula 2 - Representações sobre a mulher negra escravizada: história e literatura
Professora ministrante: Caroline Passarini Sousa
Leitura da aula: TELLES, Lorena Féres da Silva. Mulheres negras, gênero e maternidade na escravidão. In: ______. Teresa Benguela e Felipa Crioula estavam grávidas: maternidade e escravidão no Rio de Janeiro (século XIX). 2018. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 21-44.
CÔRTES, Giovana Xavier da Conceição. Entre personagens, tipologias e rótulos da “diferença”: a mulher escrava na ficção do Rio de Janeiro no século XIX. In: XAVIER, Giovana; FARIAS, Juliana Barreto; Gomes, Flávio (orgs.) Mulheres Negras no Brasil Escravista e do Pós-Emancipação. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2012, p. 67-83.
Bibliografia complementar:
CALDWELL, Kia Lilly. A institucionalização de estudos sobre a mulher negra: Perspectivas dos Estados Unidos e do Brasil. Revista da ABPN, Uberlândia, vol.1, n. 1, mar./jun. 2010, p. 18-27.
DAVIS, Angela. O legado da escravidão: parâmetros para uma nova condição da mulher. In: ______.Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 15-41.
MAIA, Ludmila de Souza. Páginas da escravidão: raça e gênero nas representações de cativos na imprensa e literatura oitocentista. Revista de História, São Paulo, n. 176, a01817, 2017, p. 1-33.
Aula 3 - Trabalho: as ocupações desempenhadas por mulheres escravizadas
Professora ministrante: Marina Camilo Haack
Leitura da aula:
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 13-18.
ARAÚJO, Carlos Eduardo; GOMES, Flávio; SOARES, Carlos Eugênio Líbano; FARIAS, Juliana. Nas quitandas, moradias e zungus: fazendo gênero. In:ARAÚJO, Carlos Eduardo; GOMES, Flávio; SOARES, Carlos Eugênio Líbano; FARIAS, Juliana. Cidades Negras: africanos, crioulos e espaços urbanos no Brasil escravista do século XIX. São Paulo: Alameda, 2006, p. 83 - 102.
MUAZE, Mariana de Aguiar Ferreira. ‘O que fará essa gente quando for decretada a completa emancipação dos escravos?’: serviço doméstico e escravidão nas plantations cafeeiras do vale do Paraíba. Almanack, Guarulhos, n.12, jan./abr. 2016, p. 65-87.
Bibliografia complementar:
TELLES, Lorena Féres da Silva. Amas de leite. In: SCHWARTCZ, Lilia; GOMES, Flávio. (orgs.). Dicionário da Escravidão e Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 99-105.
SOUZA, Flavia Fernandes de. “Escravas do lar: as mulheres negras e o trabalho doméstico na Corte Imperial”. In: XAVIER, Giovana; FARIAS, Juliana Barreto; GOMES, Flavio (orgs.). Mulheres negras no Brasil Escravista e do pós-emancipação. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2012, p. 244-260.
SOARES, C. C. M. As Ganhadeiras: Mulher e Resistência Negra em Salvador no Século XIX. Revista Afro-Ásia, Salvador, v. 17, 1996, p. 57-71.
Aula 4 - Mulheres escravizadas em busca da alforria: luta jurídica e sentidos da liberdade
Professora ministrante: Giovana Puppin Tardivo
Leitura da aula: MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Escravizadas, libertandas e libertas: qual liberdade?.In. LIMA, Ivana Stolze, GRINBERG, Keila, REIS, Daniel Aarão. Instituições Nefandas: o fim da escravidão e da servidão no Brasil, nos Estados Unidos e na Rússia. Rio de Janeiro:Fundação Casa Rui Barbosa, 2018, p. 327-337.
Bibliografia complementar:
GRINBERG, Keila. Alforria, direito e direitos no Brasil e nos Estados Unidos.Estudos Históricos, Rio de: Janeiro, n. 27, 2001, p. 63-83.
GRINBERG, Keila. Liberata: a lei da ambiguidade - as ações de liberdade da corte de apelação do Rio de Janeiro no século XIX. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 2010.
Aula 5 - Os diferentes discursos científicos sobre mulheres brancas e negras no século XIX: corpo, maternidade e higiene
Professora ministrante: Caroline da Silva Mariano
Leitura da aula: MATOS, Maria Izilda Santos de. Delineando corpos: as representações do feminino e do masculino no discurso médico (São Paulo 1890-1930). In: ______; SOIHET, Rachel (orgs.). O corpo feminino em debate. São Paulo: Editora Unesp, 2003, p. 107-127.
MARTINS, Ana Paula Vosne. A medicina da mulher: visões do corpo feminino na constituição da obstetrícia e da ginecologia no século XIX. 2000. 313f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, p. 16-31.
Bibliografia complementar:
TELLES, Lorena Féres da Silva. Entre médicos e estudantes: partos difíceis e violência obstétrica. In: ______. Teresa Benguela e Felipa Crioula estavam grávidas: maternidade e escravidão no Rio de Janeiro (século XIX). 2018. 345f. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 167-212.
MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Corpo, gênero e identidade no limiar da Abolição: a história de Benedicta Maria Albina da Ilha ou Ovídia, escrava (Sudeste, 1880). Afro-Ásia, Salvador, n. 42, 2010, p. 157-193.
Aula 6 -“Crianças perigosas”: a infância feminina pobre e o processo de escolarização na virada do século XX
Professora ministrante: Lígya Esteves Sant’Anna de Souza
Leitura da aula: SCHUELER, Alessandra F. M. Crianças e escolas na passagem do Império para a República. Revista Brasileira de História, v.19, n.37, 1999, p. 59-84.
RONCADOR, Sônia. As criadas de Júlia. Portuguese Literary and Cultural Studies, Dartmouth, v. 12, 2004, p. 249-262.
BARROS, Surya Aaronovich Pombo, VIDAL, Diana Gonçalves. Escravidão e Educação: Obrigatoriedade Escolar e a Construção do Sujeito Aluno no Brasil Oitocentista. In: SCHWARCZ, Lilia M., MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Emancipação, Inclusão e Exclusão: Desafios do Passado e Presente. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018, p. 131-156.
Bibliografia complementar:
MARCÍLIO, Maria Luiza. História Social da criança abandonada. São Paulo: Editora Hucitec, 1998, p. 134-223.
SILVA, Robson Roberto. Crianças perigosas: estudo sobre a delinquência infantil na cidade de São Paulo (1888-1927). 2013. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina.