Programa

PROGRAMA
1. A constituição do sujeito e do Outro em Simone de Beauvoir
Transcendência e imanência na filosofia existencial
Percurso filosófico de Beauvoir na tríade de seus ensaios
O que é uma mulher?

2. O Conceito de gênero - episteme da diferença sexual
a. John Money e as feministas brancas
b. ruptura de regimes

3. O Gênero como Serialidade: lendo Iris Young
a. Pensar uma articulação entre a fenomenologia e a crítica social


OBJETIVO
O curso pretende oferecer diferentes perspectivas a respeito do conceito de gênero, surgido no século XX, sob um escopo argumentativo filosófico, tendo por base a leitura de autoras fundamentais para a sua elaboração no interior da filosofia contemporânea.


JUSTIFICATIVA

O curso abordará o conceito de gênero sob três perspectivas filosóficas, de tal modo que seja possível compreender sua gênese e escopo no interior das discussões acerca da subjetividade e de sua conformação à experiência da mulher na sociedade ocidental contemporânea.
Na primeira aula, nosso objetivo é apresentar a filosofia existencial de Simone de Beauvoir. O Segundo Sexo (1949) é considerado um marco na história do pensamento feminista, e da filosofia enquanto tal, pois ali a mulher é tratada como um problema filosófico, algo que impulsionou os estudos de gênero na contemporaneidade. Mas já os textos prévios à publicação de O Segundo Sexo (1949), mesmo que não tenham como objeto de investigação a situação da mulher, demonstram o interesse da filósofa em pensar como se dá a constituição do sujeito, na ambiguidade de ser livre ao mesmo tempo que situado em condições determinadas. Abordaremos, tendo tais questões em mente, três obras da autora: Pirro e Cineas (1945), Moral da Ambiguidade (1946) e Segundo Sexo (1949). O percurso filosófico de Beauvoir nos auxiliará a compreender seu interesse pelos estudos que pautam, dentre outras questões, o problema da existência, das possibilidades e dos obstáculos à transcendência do sujeito, à liberdade, à ação e aos projetos no mundo – elementos que tomarão corpo em O Segundo Sexo, obra que analisa a situação dos sujeitos e a experiência vivida pela mulher enquanto Outro.
Na segunda, partiremos da premissa de que o gênero é um conceito, e, portanto, um território delimitado de análise, mas, também, devido às máquinas técnicas da psiquiatria, da endrocrinologia e das cirurgias mais recentes, algo passível de uma abordagem conceitual por parte das feministas brancas pró-Estado, sem que se leve em conta as consequências disso. Trata-se de mostrar que há aí a possibilidade de uma ruptura da episteme sexual moderna, pautada pelo dimorfismo, o que abre campo para um estrato plástico do gênero.
Ainda, considerando a querela em que o conceito de gênero se imbricou nos últimos debates feministas, principalmente após as demandas de algumas feministas avessas a uma abordagem crítica do dimorfismo e mesmo da heteronormatividade compulsória, na terceira aula discutiremos por que é ainda necessário discutir este conceito. Tomaremos como base o texto de Iris Young sobre gênero e serialidade, no qual a filósofa faz uma releitura do existencialismo francês, âmbito em que Beauvoir escreveu O Segundo Sexo, a fim de justificar a pertinência de tal conceito para o exercício de uma crítica social consequente com demandas trazidas pelas lutas feministas contemporâneas.


METODOLOGIA

Apresentação das diferentes perspectivas através da exposição das argumentações e diálogo acerca dos temas, como forma de troca e compreensão. Isso se realizará por meio da leitura de textos selecionados das autoras em questão. Dúvidas serão trabalhadas ao final do percurso da exposição, por meio da abertura de uma conversa sobre os temas da aula.

BIBLIOGRAFIA

Parte da bibliografia não possui tradução para a língua portuguesa. Os trechos analisados ao longo do curso serão traduzidos previamente e disponibilizados aos inscritos no curso.
BEAUVOIR, S. Pyrrhus et Cinéas, Paris, Gallimard, 1944. Ed. esp : Para qué la acción?, trad de Juan José Sebreli, Buenos Aires Ediciones Siglo Veinte, 1965.
____________. Pour une morale de l'ambiguité. Paris, Gallimard, 1947. Ed bras : Moral da Ambiguidade, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970.
____________. Le Deuxieme Sexe. Paris, Gallimard, 1949. Ed. bras : O Segundo Sexo. tr. Sergio Milliet, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009

FAUSTO-STERLING, A. Sexing the Body, Basic Books, p.63-77, 2000

PRECIADO, P.B. Testojunkie: Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica, Editora n-1, São Paulo, 2018.

YOUNG, Iris. Gender as Seriality: Thinking about Woman as a Social Collective. In: Intersecting Voices: Dilemmas of Gender, Political Philosophy and Policy. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1997