Programa

Duração/ carga horária:  6 encontros com 4 aulas de 45’ cada, totalizando 24 horas de aula, mais seis horas de atividades complementares dadas ao longo do curso. Total: 30 horas.

Cronograma: aulas aos sábados, das 9:30 às 12:30, nos dias: 14, 21, 28 de novembro e 05, 12 e 19 de dezembro.

Objetivos gerais:

  1. O corpus deste curso – para além do cânone literário nacional – pretende discutir características e impasses da literatura de autoria feminina. O aluno terá contato com memórias, diários, romances, contos e poemas, escritos por mulheres a partir do final do século XIX, que ainda não foram assimilados pelo currículo tradicional literário, de modo a ampliar seu repertório. 

  1. Ao final do curso os alunos terão sido levados a investigar:

a) aspectos da expressão literária e do caráter social da escrita da mulher no Brasil, para além da discussão restrita dos discursos de gênero;

b) Características estruturais e contextuais das obras abordadas;

c) o caráter de visibilidade/invisibilidade da escrita de autoria feminina.

Objetivos específicos:  Ao final do curso os alunos terão sido levados a:

  1. Identificar ou ponderar o caráter literário das obras abordadas; analisar e problematizar questões de forma; avaliar as circunstâncias sociais das produções escolhidas.
  2. Acompanhar e pensar a problemática da inserção dessas e outras obras similares no sistema literário hegemônico e a sistemática de apagamento de obras de autoria feminina nas historiografias e outros mecanismos de consagração de textos e livros.
  3. Colocar em questão algumas práticas que atravessam a  sua participação na composição desse sistema. Exemplos de indagações relevantes: Os professores costumam inserir tais obras nos seus cursos? Essas obras costumam fazer parte dos vestibulares e outras provas para admissão em instituições públicas ou privadas? É possível articular o estudo de tais obras àquelas escolhidas pelo sistema tradicional? Qual a relevância do ‘lugar de fala’ no campo literário para os alunos da rede pública ou privada? E, sobretudo, quais os impasses do “lugar de fala” em face da exigência da literariedade das obras?

Atividades complementares:

  1. Antes de cada encontro os alunos serão solicitados a ler obras ou trechos de obras de autoria feminina disponibilizados anteriormente.
  2. A cada encontro, durante a aula, os alunos serão solicitados a compartilhar suas opiniões, impressões e engajarem-se em atividades guiadas ou livres (oralmente e/ou por escrito). Quatro atividades serão solicitadas pelas professoras para serem entregues, por escrito, após cada segmento do conteúdo (aulas 2, 3, 5 e 6), e os alunos serão convidados a escolher uma dessas quatro propostas para fazer fora do horário da aula. A equipe de professoras dará um retorno com comentários e/ou sugestões. 

Textos/base:

  1. Diário de Cecília de Assis Brasil, de Cecília Assis Brasil
  2. Minha vida de menina, de Helena Morley
  3. O diário de Bernardina: Da monarquia à República pela filha de Benjamin Constant, de Bernardina Botelho de Magalhães
  4. Álbum, de Maria Firmina dos Reis
  5. Isabel quis Valdomiro, de Maria Isabel Silveira
  6. Dias ensolarados no Paraízo, de Brazília O. de Lacerda
  7. Páginas de recordações, de Floriza B. Ferraz
  8. Meu Glorioso Pecado, de Gilka Machado
  9. Parque Industrial, de Patrícia Galvão
  10. Água Funda, de Ruth Guimarães
  11. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, de Stela do Patrocínio
  12. Antologia Pessoal de Carolina Maria de Jesus
  13. Clíris: Poemas Recolhidos de Carolina Maria de Jesus
  14. Dia bonito pra chover, de Lívia Natália
  15. Prosa Poesia, de Noêmia Duque
  16. Eu não Quero Flores de Plástico, de Ana Cruz
  17. Eu, Mulher Negra, Escrevo, de Selma Maria da Silva
  18. Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus
  19. Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves

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Programa:

Aula 1 – 14 de novembro

Parte 1) Contextualização da literatura de autoria feminina e dos estudos de gênero no Brasil

Parte 2) Diários e Memórias: escrita que rompe com a lacuna historiográfica engendrada no cenário de assimetria na relação entre os sexos

Aula 2 – 21 de novembro

Parte 1) Diários e Memórias: escrita de mulheres presas a imagens e condutas

Parte 2) Gilka Machado e o pioneirismo na poesia erótica: reações e desdobramentos

 

Aula 3 – 28 de novembro

Parte 1) Patrícia Galvão e o pioneirismo no romance proletário: o impacto da escrita com afirmação política envolvendo a situação da mulher

Parte 2) Água Funda e o regionalismo: embates entre razão e loucura na cultura no Sul de Minas dentro do contexto da colonização e seus efeitos, pelo olhar de uma caipira

Aula 4 – 05 de dezembro
Parte 1) 2) Stela do Patrocínio e os falatórios: a forma desconcertante e lúcida do poema em desrazão

Parte 2) Investigação sobre auto-apresentação da mulher negra na poesia brasileira a partir do século XX / Panorama da poesia de autoria feminina negra brasileira na contemporaneidade

Aula 5 – 12 de dezembro

Parte 1 e 2) Investigação sobre auto-apresentação da mulher negra na poesia brasileira a partir do século XX / Panorama da poesia de autoria feminina negra brasileira na contemporaneidade

Aula 6 – 19 de dezembro

Parte 1) Romance: Um defeito de cor

Parte 2) Romance: Um defeito de cor

 

Bibliografia de Referência:

ADORNO, Theodor W. “Palestra sobre lírica e sociedade”. In: Notas de literatura I. Tradução Jorge de Almeida. São Paulo: Editora 34, 2003. 

BERND, Zilá. “Em busca dos rastros perdidos da memória ancestral: um estudo de Um defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves”. In: Estudos de literatura brasileira contemporânea, n.40, jul./dez.2012, p.29-42.

DALCASTAGNÈ, Regina. “Renovação e permanência: o conto brasileiro da última década”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 11. Brasília, 2001, pp. 3-17.

___________. “Uma voz ao sol: representação e legitimidade na narrativa brasileira contemporânea”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 20. Brasília, 2002, pp. 33-77.

___________. “A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004”, Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 26, Brasília, jul./dez. 2005, p. 13-7.

DAL FARRA, Maria Lucia. “Gilka – A mulher proibida” in Poesia Completa Gilka Machado. São Paulo: V. de Moura Mendonça – Livros, 2017.

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EVARISTO, CONCEIÇÃO. “Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita”. In: Alexandre, Marcos Antonio (org.). Representações performáticas Brasileiras: Teorias, Práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza, 2007.

 _____________________“Gênero e Etnia: uma escre(vivência) de dupla face”. In: MOREIRA, Nadilza Martins de Barros; SCHNEIDER, Liane (Orgs.). Mulheres no Mundo: Etnia, Marginalidade e Diáspora. João Pessoa: UFPB, Idéia/Editora Universitária, 2005.

EVARISTO, Conceição. “Da representação à auto-apresentação da Mulher Negra na Literatura Brasileira”. Revista Palmares: cultura afro-brasileira, Brasília, ano 1, n. 1, p. 52-57, ago. 2005. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/download/52%20a%2057.pdf (Acesso em: 07 out. 2020).

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RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2017.

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