Programa

Aula 1: Os pressupostos da crítica musical adorniana e a cena cultural da República de Weimar.

A crítica ao jazz de Theodor W. Adorno deve ser compreendida como um argumento historicamente construído em diferentes contextos culturais. Partindo desse pressuposto, nesta aula iremos num primeiro momento nos ater a uma descrição geral da cena musical alemã dos anos 1920 e ao tipo de jazz que ali circulava, tal como as relações da música comercial com a música “séria” do período. O artigo de J. Bradford Robinson incluído na bibliografia desta aula servirá de base para tal discussão. Num segundo momento, teremos como objeto de discussão o texto de Adorno Sobre a situação social da música (1932), que estabelece as bases de um modelo de crítica capaz de interpretar tanto os destinos da música comercial e do jazz como a mudança de status e de função da cultura em meio à sociedade capitalista do entreguerras e de sua nascente indústria cultural. Partindo das reflexões desenvolvidas na década de 1920, o autor se debruça sobre as consequências da estabilização musical e da transformação da música em mercadoria.

Bibliografia Básica:
ADORNO, Theodor. Sobre la situación social de la música [1932]. In: ADORNO, Theodor. Escritos Musicales V. Obra Completa, 18. Madri: Ediciones Akal, 2011, p.762-809.
ROBINSON, J. Bradford. The jazz essays of Theodor Adorno: some thoughts on jazz reception in Weimar Germany. In: Popular Music. Cambridge: Cambridge University Press, Vol. 13, n.1, Janeiro de 1994.
Bibliografia Complementar:
ALMEIDA, Jorge. Crítica Dialética em Theodor Adorno: música e verdade nos anos 1920. Cotia: Ateliê Editorial, 2007.
GAY, Peter. A cultura de Weimar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
WIPPLINGER, Jonathan O. The Jazz Republic: Music, Race and American Culture in Weimar Germany. Social History, Popular Culture, and Politics in Germany (Série). EUA, Michigan: University of Michigan Press, 2017.

Aula 2: A crítica ao jazz durante os anos 1930.

Explicitados os pressupostos de seu pensamento e traçada a fisionomia da música comercial do período, iremos nos debruçar diretamente sobre os textos de Adorno da década de 1930 que tratam exclusivamente do jazz. Os dois textos de Adorno incluídos na bibliografia básica desta aula constituem o ponto alto de sua análise em relação a esse tipo de música antes de seu exílio norte-americano, e representam um momento de amadurecimento e complexificação de suas ideias. Em seu argumento, o autor se empenha em revelar os mecanismos e forças
econômicas que atuam sobre o jazz e seu material musical, tal como seus aspectos ideológicos e reificantes. Decifrando-o socialmente, Adorno busca destituir criticamente dessa música sua aparência moderna, libertária e emancipadora.

Bibliografia Básica
ADORNO, Theodor W. Adiós al jazz [1933]. In: ADORNO, Theodor. Escritos Musicales V. Obra Completa, 18. Madri: Ediciones Akal, 2011; p. 829-833. Disponível também em inglês: Farwell to jazz. In: LEPPERT, Richard (Org.). Essays on Music: Theodor Adorno. Berkeley: University Of California Press, 2002; p. 496-500.
ADORNO, Theodor W. Sobre el jazz [1936]. In: ADORNO, Theodor. Escritos Musicales IV. Obra Completa, 17. Ediciones Akal: Madrid, 2008; p. 83-118. Disponível também em inglês: On jazz. In: LEPPERT, Richard (Org.). Essays on Music: Theodor Adorno. Berkeley: University Of California Press, 2002; p. 470-495.

Bibliografia Complementar:
ADORNO, Theodor W. Crítica cultural e sociedade [1949]. In: Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Editora Ática, 2001; p. 7- 26.
BERENDT, Joachim-Ernst; HUESMANN, Günther. Os estilos do jazz. In: O livro do jazz.: de Nova Orleans ao século XXI. São Paulo: Perspectiva: Edições Sesc São Paulo, 2014; p.29-88.
LEPPERT, Richard. Commentary (Music and Mass Culture). In: ADORNO, Theodor. Essays on Music. University of California Press: Califórnia, 2002, p.327-372.

Aula 3: O jazz como epíteto da indústria cultural e da fetichização da música.

Em seu exílio norte-americano, Adorno desenvolve e amplia sua crítica à mercantilização da cultura, indicando em seus textos tendências regressivas que atingem o público, o sistema de produção e reprodução dos bens culturais e o caráter fetichizado e materialmente precário das obras. Neste debate, o jazz passa a figurar como exemplo e índice histórico relevante das consequências da colonização da cultura pela lógica mercantil. Alçado ao sucesso comercial e tendo tomado a forma do swing, o jazz passa a ser o centro de toda a indústria do entretenimento da música norte-americana. Nesse sentido, iremos ler tais textos buscando como neles se desenvolve a crítica adorniana ao jazz, a fim de ressaltar não só como sua argumentação passa a ser operada em um novo nível sociológico e conceitual de análise, como também identificar na própria crítica ao jazz o fio condutor de tal diagnóstico de época.

Bibliografia Básica:
ADORNO, Theodor W. Sobre o caráter fetichista na música e a regressão da audição [1938]. In: Indústria Cultural (Coletânea). São Paulo: Editora Unesp, 2020; p.53-101.
ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. A indústria cultural. O Esclarecimento como mistificação das massas [1944]. In: Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985; p.99-138.

Bibliografia Complementar:
ADORNO, Theodor W. Sobre a música popular [1941]. In: COHN, Gabriel (Org.). Sociologia: Theodor Adorno. São Paulo: Ática, 1986, p.115-146.
CARONE, Iray. Adorno em Nova York: Os estudos de Princeton sobre a música no rádio (1938-1941). São Paulo: Alameda, 2019.
RODRIGUES, Maysa C. C. Indústria cultural em Theodor Adorno: das primeiras análises sobre a
mercantilização da cultura nos anos 1930 à formulação do conceito em 1947. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2015.

Aula 4: Os escritos tardios e a revolução musical do jazz.

Neste último encontro, iremos analisar num primeiro momento os textos tardios de Adorno a respeito do jazz, escritos na década de 1950 e que dão continuidade ao seu posicionamento crítico que acompanhamos até aqui. À época, Adorno foi duramente criticado pelo jornalista Joachim-Ernst Berendt, ao qual o autor respondeu em uma réplica. Acompanharemos esse debate a fim de iluminar não só as críticas que Adorno recebeu, como sua defesa em relação aos pontos levantados por seu interlocutor. Num segundo momento, iremos nos debruçar sobre os desenvolvimentos do jazz a partir da década de 1950 em diante, período no qual essa música passa por uma profunda transformação de seu material musical e assume uma nova posição em relação à indústria cultural, tornando-se interlocutora de questões caras à população afro-americana e suas respectivas demandas políticas. Discutiremos, por fim, os limites e pontos cegos da crítica de Adorno, principalmente diante destas transformações no jazz que, a princípio, o tornam bastante distinto daquela música que foi o objeto da crítica adorniana na distante década de 1930.

Bibliografia Básica:

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ADORNO, Theodor. Moda intemporal – sobre o jazz [1953]; Anexo: Réplica a uma crítica à “Moda intemporal” [1953]. In: Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Editora Ática, 2001; p.117-130; p.281-285.
BERENDT, Joachim-Ernst. A favor e contra o Jazz [1953]. In: Arte Filosofia n.16. Ouro Preto: IFAC/UFOP, julho de 2014; p.4-10.

Bibliografia Complementar:
FRIDMAN, Luís Carlos. Theodor Adorno e Eric Hobsbawm sobre o Jazz. Sociol. Antropol. Rio de Janeiro, V.10.02, Mai.-Ago. 2020, p.493-512.
HOBSBAWM, Eric J. História social do Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 2017.
OKIJI, Fumi. Jazz As Critique: Adorno and black expression revisited. Stanford, California: Stanford University Press, 2018.