Programa

Nesse curso nos propomos a ler a Dissertação de 1770, dadas as limitações de tempo, tendo em vista um problema que poderíamos formular de muitas formas. Poderíamos chamá-lo de problema da coisa em si, mas também de questão do dogmatismo na Dissertação de 1770. Mas porque a possibilidade de julgar esse dogmatismo é posterior (só é formulado na Crítica), teríamos de formulá-lo como o problema do dogmatismo na Dissertação pensada a partir da Crítica. O que nos importa é compreender como as questões clássicas da leitura do Kant crítico são tratadas na Dissertação, ou seja, imaginamos um curso em que cada aula consiga expor o argumento de cada seção da Dissertação e, logo após, explorar sua distância em relação à formulação da Crítica. Isso se mostra importante tendo em vista a quantidade de leituras da Crítica (do problema da coisa em si) que se baseiam numa perspectiva que surge na Dissertação em relação a isso. Assim, seria sem dúvida muito útil compreender de forma clara o que é Síntese e Análise na Dissertação e fazer a tentativa de decidir se esses conceitos são os mesmos que aparecem na Crítica. Para isso, para compreender essa distância, precisamos considerar a relação de continuidade e ruptura que há entre o período Pré-crítico e o período Crítico. Quanto a isso, para o que nos interessa, a caracterização da lógica é o coração do argumento. A divisão entre lógica em geral e lógica transcendental que aparece no início da Lógica transcendental da primeira Crítica não aparece em nenhuma obra pré-crítica, nem na Dissertação. Mas, por outro lado, mesmo nas obras pré-críticas podemos encontrar formulações que antecipam a Crítica. Na Teoria do céu encontramos já o problema ao qual aquela divisão procurar resolver (o mundo na verdade é um caos, nós é que atribuímos ordem a ele). Na Dissertação encontramos talvez o mesmo problema e a mesma compreensão de fundo da Crítica, mas a diferença de formulação as distancia, aproximando a Dissertação das soluções dogmáticas (o estatuto da Dissertação é duplo, crítico na compreensão, dogmático na formulação). A contraposição entre Análise e Síntese na Dissertação, assim como a contraposição entre Sublime e Belo nas Observações sobre o sentimento do belo e do Sublime, são o último resquício do problema dogmático, ou seja, termos que foram criados para fixar uma contraposição (entre conceber e realizar) e que, portanto, já delimitam a questão do não-dogmatismo da metafísica, se tornam, na Crítica, articuláveis e interdependentes, ou seja, a delimitação (o conceber) é ainda abstrata, mas o ato puro (a realização) reabsorve, em outros termos, o conceber como potencializador do realizar. A análise tal como aparece na Dissertação não aparece mais na Crítica, mas é uma análise, no sentido crítico, dessa solução que colocará o problema para si e não mais para outro: problema dos juízos sintéticos a priori.
 

Dia 13/04: Análise e síntese.
Dia 15/04: Sentir, perceber e representar.
Dia 20/04: Princípio de vinculação.
Dia 22/04: Ligação real e Ligação formal.
Dia 27/04: A impossibilidade da subordinação intuitiva.
Dia 29/04: O problema da síntese a priori.

Bibliografia:
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