Programa

- Aula 1 (19/05):
Yi Sang (1910-1937), em sua curta carreira de sete anos como escritor, produziu cerca de cem poemas, dezesseis contos e diversos artigos e escritos espalhados em jornais e revistas da época. Sua obra esteve no centro das maiores polêmicas da literatura coreana na década de 1930. Em 1934, a publicação de sua coletânea de poemas “Olho-de-corvo” (em coreano, “Ogamdo”) foi recebida com indignação pelo público por causa de sua experimentação radical com a linguagem e a forma, divergindo da poética lírica e realista que era esperada (PARK, 2019). Em 1999, “Olho-de-corvo e outras obras de Yi Sang” é publicado no Brasil, em tradução de Yun Jung Im,
sendo esse texto em portugês a fonte dos textos a serem analisados. O poema Espelho (1933), ao liderar tão diretamente com a temática do espelho, é um precedente a ideias que virão a ser retomadas e desenvolvidas em “Olho-de-corvo”. Neste poema, ao invés de indicador de uma realidade objetiva, o espelho é apresentado como um aprisionamento que separa o eu-lírico de si mesmo, fragmentando sua individualidade e impedindo qualquer comunicação entre o “eu” e o mundo. Já no poema número quatro do “Olho-de-corvo” (1934), o espelho aparece de maneira completamente visual, em um diagrama numérico ao contrário, que tem simetrias e também falsas simetrias. O poema é escrito como se fosse um diagnóstico médico, gênero representante de uma objetividade
científica, mas que se prova subjetiva nos jogos imagéticos do poeta. Além dos números, as palavras também se espelham, como em “assigna o médico responsável Yi Sang” (grifo meu).

- Aula 2 (20/05):
Elementos biográficos de Yi Sang (1910-1937), suas relações familiares na infância, relacionamentos amorosos, casamento e morte; sua posição na história da literatura coreana etc.

- Aula 3 (21/05):
O poema número sete de “Olho-de-corvo” apresenta outras possibilidades de espelhamento. Primeiramente, as voltas da “flor brilhante” que é a lua marcam a passagem do tempo. Dessa maneira, o “antes” é comparado em alto contraste com o “depois”. A paisagem desses dois momentos se espelham, o que pode ser exemplificado pelas descrições da lua: antes, “alegrerridente feito um broto novo”; depois, “toda estropiada que derrui penalizada com o nariz decepado”. Além disso, a ambientação temática e os aspectos formais do poema remetem ao sijô, gênero tradicional coreano chamado de poesiacanto pela tradutora Yun Jung Im. No sijô, duas das temáticas mais
importantes são o exílio e a contemplação da natureza. A primeira parte do poema número sete usa elementos muito caros ao sijô, como por exemplo a lua, o riacho e o reflexo da lua no riacho, encontrando-se diversos sijôs semelhantes ao texto de Yi Sang. Porém, na reviravolta do poema, esses elementos se tornam horríveis, assombrosos, e a natureza é hostil, como por exemplo a nevasca que é sangue, a cobra que é venenosa. O que começou como uma espécie de sijô se torna algo como um “anti-sijô”, o sijô invertido no espelho. Por fim, o último poema a ser estudado é o de número quinze do “Olho-de-corvo”. Esse poema traz de volta uma atmosfera que lembra a do primeiro poema lido, Espelho. Neste caso, o espelho volta a ser citado diretamente. O “eu fora do espelho” teme o “eu dentro do espelho”, e vice-versa. Novamente, toda interação entre os dois é impossível. O primeio tenta atirar no segundo, mas não consegue. O fechamento do poema indica a frustração da situação, ao afirmar que um “pecado descomunal” bloqueia até mesmo a possibilidade de que os dois apertem as mãos. Ou seja, o próprio espelho simboliza esse pecado por ser a barreira entre os dois sujeitos. Como Yun Jung Im aponta (1999, p. 186), este poema é comumente lido como uma “confrontação entre fragmentos do ego, a divisão entre o eu real e o eu ideal, entre o eu essencial e o eu não-essencial”.

Referências:
IM, Yun Jung; MARSICANO, Alberto. Sijô: poesiacanto coreana clássica. São Paulo: Iluminuras, 1994.
KIM, John H. As the crow flies: Yi Sang's aerial poetics. Journal of Korean Studies, Durham, vol. 23, n. 2, pp. 241-274, 2018. Disponível em: <https://muse-jhu-edu.ez67.periodicos.capes.gov.br/article/706725&gt;. Acesso em: 09 fev. 2021.
PARK, Hyun Seon. Colonial modernism and inverted subjectivity: the paradoxes of the mirror in the writings of Yi Sang. In: SEIGNEURIE, Ken (ed.). A companion to world literature. New Jersey: John Wiley & Sons, 2019.
SONE Seunghee. The Mirror Motif in the Crow’s-Eye View (Ogamdo) Poems. Seoul Journal of Korean Studies, Seul, vol. 29, n. 1, pp. 193-217, 2016. Disponível em: <https://muse.jhu.edu/article/623888&gt;. Acesso em: 09 fev. 2021.
YI SANG. Tradução por Yun Jung Im. Olho-de-corvo e outras obras de Yi Sang. São Paulo: Perspectiva, 1999.