Programa

Vida Fake e o fascismo algorítmico: redes sociais, neoliberalismo e totalitarismo

Responsável: Prof. Dr. Benito Eduardo Araújo Maeso (pos-doc FFLCH/USP)
Data de início: 10/05/2021
Data de término: 12/05/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido do/a ministrante:
Professor do IFPR, Doutor em Filosofia Política (UFPR), Mestre em Estética e Filosofia da Arte (USP), Graduado em Filosofia (UFPR). Linhas de pesquisa: Filosofia Política, Estética, Indústria Cultural, Escola de Frankfurt, Adorno, filosofia francesa contemporânea, Deleuze, Sociedades administradas e de controle, Ética e subjetividade, Neoliberalismo, Tecnologia, Economia Política da Informação, Estudos em Marx. Integrante do Grupo de Pesquisa em Filosofia Contemporânea (USP), do Grupo de Estudos Espinosanos (USP) e do Grupo de
Pesquisa em Filosofia e Ensino (UTFPR/UFPR/IFPR). Atualmente é pesquisador de pos-doutoramento sobre política, fake news e subjetividade na FFLCH/USP e líder do Grupo de Trabalho e Pesquisa do CNPq Histórias das Filosofias (IFPR/UFPR/USP)

Sinopse:
O curso buscará debruçar-se sobre as características e estratégias que fornecem aos discursos populistas-autoritários seu poder de sedução, ao ponto em que é mais simples para uma pessoa aceitar uma informação claramente falsa do que outra ancorada em fatos. É possível imaginar que não existem mais nem as “verdades” nem as interpretações, pois até estas ainda referem-se a um real/concreto que seria o objeto interpretável. O chamado fake tornou-se o concreto, possuindo dimensão material e efeitos na chamada realidade. Assim, é
preciso entender este processo e o que há por detrás dos discursos e práticas da dita alt-right, ou seja, a maneira pela qual operações psicológicas alimentam o ressentimento latente na sociedade e a mentalidade de competição de todos contra todos. Pós-verdade, ressentimento e antipolítica criam as condições para o estabelecimento de uma vida fake (o que é visível desde os movimentos antivacinas e terraplanistas até as tentativas forçadas de reencantamento do presente – mesmo em discursos tidos como de esquerda). A questão que move o desfecho do projeto é se, a partir deste levantamento de dados e estudo das condições materiais do presente, é possível entender como este processo de falsificação da vida ocorre e como seria possível o estabelecimento de estratégias e táticas de ação que permitam reconectar as pessoas e combater o ethos autoritário da sociedade.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: Desejo, ressentimento e a construção da auto-realidade
Dia 1 - parte 2: A hipersubjetividade, ou subjetividade n+1
Dia 2 – Parte 1: Da pós-verdade à Auto-verdade
Dia 2 – Parte 2: O fascismo de si mesmo, antipolítica e guerra híbrida

Bibliografia e textos de interesse
ADORNO, T. W. As estrelas descem à Terra. Trad. Pedro Rocha de Oliveira. SP: Ed. Unesp, 2008
_____, Aspectos do novo radicalismo de direita. Trad. Felipe Catalani. SP : Ed. Unesp, 2020
_____, Educação e emancipação. 3ª ed. Trad. Wolfgang Leo Maar. SP : Paz e Terra, 2003
_____, Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. Trad. Verlaine Freitas. SP : Ed. Unesp, 2015
_____, Estudos sobre a personalidade autoritária. SP : Ed. Unesp, 2019
ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento.. RJ : Jorge Zahar Editor, 1985
ANDERSON, K. Marx at the margins. On Nationalism, Ethnicity and Non-western Societies. Chicago: University of Chicago Press, 2010
ARANTES, P. E. O novo tempo do mundo e outros estudos sobre a era da emergência. SP : Boitempo, 2014
_____, Ressentimento da Dialética. SP : Paz e Terra, 1996
BENSAID, D. Eloge de la politique profane. Paris : Alban Michel, 2008
CANEVACCI, M. (org.) Dialética do Indivíduo: o indivíduo na natureza, história e cultura. Trad.: Carlos Nelson Coutinho. SP : Brasiliense, 1981
CHAUÍ, M. A ideologia da competência. Escritos de Marilena Chauí v.3. BH : Autêntica, 2014
_____, Conformismo e resistência. Escritos de Marilena Chauí v.4. BH : Autêntica, 2014
_____, Contra a servidão voluntária. Escritos de Marilena Chauí v.1. BH : Autêntica, 2014
_____, Em defesa da educação pública, gratuita e democrática. Escritos de Marilena Chauí v. 6. BH : Autêntica, 2018
_____, Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. Escritos de Marilena Chauí v.2. BH : Autêntica, 2014
_____, Sobre a Violência. Escritos de Marilena Chauí v.5. BH : Autêntica, 2017
DARDOT, P.; LAVAL, C. A Nova Razão do Mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. SP : Boitempo, 2016
_____, Propriedade, apropriação social e instituição do comum. Trad. Naira P, dos Santos. Tempo Social, revista de sociologia da USP, V. 27, nº 1, 2015, pp 261-273
DEBORD, G. A sociedade do Espetáculo. Copyleft. Disp. em www.ebooksbrasil.org/adobeebook/socespetaculo.pdf
DELEUZE, G. Conversações 1972-1990. SP : Ed. 34, 1995
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia. SP : Editora 34, 2010
_____, Mil Platôs - Vols. 1-5. SP : Editora 34, 1995
DUNKER, C. Mal-estar, sofrimento e sintoma. Prefácio Vladimir Safatle. SP : Boitempo, 2015
FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. SP : Martins Fontes, 2008
FRASER, N. O feminismo, o capitalismo e a astúcia da história. Revista Mediações (UEL). V. 14, nº2, 2009.
FREUD, S. Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (1920-1923). Coleção Obras Completas de Sigmund Freud, vol. 15. SP : Companhia das Letras, 2011
GUATTARI, F. Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. SP : Brasiliense, 1981
HAN, B-C. A sociedade do cansaço. SP, Vozes : 2015
_____, La Agonia del Eros. Madri, Herder : 2013 a
_____, La Sociedade de la Transparencia. Madri, Herder : 2013b
_____, Psicopolítica. Madri, Herder : 2013c
_____, Topology of violence. Boston : MIT Press, 2018
HARDT, M.; NEGRI, A. Empire. Cambridge : Harvard University Press, 2000
_____, Multidão – Guerra e Democracia na era do Império. RJ : Record, 2005
HARVEY, D. The condition of post-modernity. Cambridge : Blackwell, 1990
HIRSCHL, R. Towards juristocracy: The origins and consequences of the new constitutionalism. Cambridge: First Harvard University Press, 2004.
KLEIN, N. A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre. SP: Nova Fronteira, 2008
LAZZARATO, M. As Revoluções do Capitalismo, trad. de Leonora Corsini. SP : Record, 2006
LOPES, R. S. Informação, Conhecimento e Valor. SP : Radical, 2007
LOREY, I. State of Insecurity: Government of the Precarious. Londres : Verso, 2015
MARX, K. Grundrisse. SP : Boitempo, 2011
_____, Manuscritos econômico-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. SP : Boitempo, 2004
_____, Miséria da Filosofia. SP : Martin Claret, 2000
_____, O Capital – Vol. 1. O Processo de produção do Capital. SP : Boitempo, 2013
_____, O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. Prefácio Octavio Ianni. RJ : Paz e Terra, 1974
_____, Sobre o suicídio. SP : Boitempo, 2015
MATOS, O. A Democracia pós-moderna. Artigo disp em www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4480
MBEMBE, J-A. Necropolitics. Public Culture, Volume 15, Number 1, Winter 2003, pp. 11-40 (Article) . Duke University Press. Disp. em
www2.warwick.ac.uk/fac/arts/english/currentstudents/pg/masters/modules/postcol_theory/mbembe_22necropolitics22.pdf
REICH, W. Psicologia de massas do fascismo. Porto : Escorpião, 1974
SAFATLE, V. Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno. BH : Autêntica, 2019
_____, O circuito dos Afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. SP : CosacNaify, 2015
_____, Pós-modernidade: utopia do capitalismo. Revista Virtual Trópico, 2002
_____, Quando as ruas queimam: manifesto pela emergência. São Paulo : n-1 edições, 2016
_____, Só mais um esforço. São Paulo : Três Estrelas, 2017
_____, Um dia, essa luta iria ocorrer. São Paulo : n-1 edições, 2018
SIQUEIRA, M. Capitalismo cognitivo, trabalho imaterial e general intellect. Políticas Culturais em Revista, 1 (2),
p. 20-40, 2009. Disp. Em www.politicasculturaisemrevista.ufba.br
STANDING, G. The Precariat. Londres, Bloomsbury : 2011

De uma "presença ausente": o pensamento brasileiro à sombra da Formação

Responsável: Prof. Me. Dario de Negreiros (Doutorando – Dep. de Filosofia-USP)
Data de início: 28/06/2021
Data de término: 30/06/2021
Horário: a definir
Carga horaria: 4 horas

Currículo resumido do/a ministrante:
É professor convidado e coordenador-assistente do Curso de Especialização da PUC-SP "Psicanálise nas situações sociais críticas". Doutorando do Departamento de Filosofia da USP, tendo concluído mestrado e graduação no mesmo departamento. Bacharel em Jornalismo (PUC-SP), Psicologia (PUC-SP) e Filosofia (USP). Desenvolveu pesquisas nas áreas de: Pensamento Social Brasileiro, Filosofia Política (Maquiavel, Claude Lefort) e epistemologia da psicanálise (Georges Politzer, Jacques Lacan). Cursou dois semestres de filosofia na Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Atua no campo de direitos humanos e reparação psíquica, tendo
trabalhado como consultor da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), coordenador de Pesquisa e Reparação Psíquica da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, coordenador do projeto CERP-SC (Centro de Estudos em Reparação Psíquica de Santa Catarina) e consultor da International Coalition of Sites of Conscience. É coautor e co-organizador do livro "Corpos que sofrem ? Como lidar com os efeitos psicossociais da violência" (Ed. Elefante) - disponível em www.cerpsc.com.

Sinopse:
Ao pensarem o Brasil sob a perspectiva comum da Formação, autores como Caio Prado Jr., Maria Sylvia de Carvalho Franco, Fernando Henrique Cardoso e Roberto Schwarz constituíram, na expressão deste último, uma espécie de obra coletiva, cuja vasta fortuna crítica faria da Formação um “quase gênero” do pensamento brasileiro. Neste curso, empreenderemos uma leitura crítica desta tradição de pensamento a partir de uma interrogação fundamental: qual é, para estes autores, o lugar ocupado e o papel exercido pelas classes
subalternas no processo de formação nacional? Em especial, teremos como foco o modo como estes autores constroem suas figurações do lugar ocupado pela população negra escravizada, bem como pelos livres pobres e libertos. Eis, enfim, a hipótese a ser testada: os autores da tradição da Formação, guardadas suas profundas diferenças, acabaram por sedimentar a compreensão do lugar ocupado pelas classes subalternas no Brasil como um não-lugar, com amplas consequências tanto para a estrutura geral de suas obras de pensamento, quanto para os caminhos a serem percorridos posteriormente, e até hoje, pelo pensamento social e político brasileiro.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: O fim do começo: como termina a obra magna de Caio Prado Jr.?
Dia 1 - parte 2: “As ideias fora do lugar” como texto-síntese da Formação
Dia 2 – Parte 1: De Paris a Guaratinguetá: Maria Sylvia de Carvalho Franco
Dia 2 – Parte 2: Por uma nova história da vida ideológica nacional

Bibliografia e textos de interesse
BOSI, Alfredo. A escravidão entre dois liberalismos. Estud. av., São Paulo , v. 2, n. 3, p. 4-39, Dez. 1988. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141988000300002. [Acesso em 4 de Janeiro de 2020].
CASTRO GOMES, Ângela de. Questão social e historiografia no Brasil do pós-1980: notas para um debate. Estudos históricos, n.34, julho-dezembro de 2004.
CHALHOUB, SIDNEY; DA SILVA, FERNANDO TEIXEIRA. Sujeitos no imaginário acadêmico: escravos e trabalhadores na historiografia brasileira desde os anos 1980. Cadernos AEL, v.14, n.26, 2009.
CARDOSO, F. H. (1962). Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. "Impasses do Inorgânico", in: M. A. D'Incao (org.), História e Ideal: Ensaios sobre Caio Prado Jr. São Paulo: Brasiliense/Unesp, pp. 377-405, 1989.
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo: Unesp, 1997a.
______. Resposta à ortodoxia. Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 14/12/97b. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs140921.htm.
______. As ideias estão no lugar. Cadernos de Debates, n. 1. São Paulo: Brasiliense, 1976.
GOMES, Flavio; FERREIRA, Roquinaldo. A Miragem da Miscigenação", Novos Estudos Cebrap, 80: 141-160, março 2008 (livre acesso em https://doi.org/10.1590/S0101-33002008000100010 )
MARQUESE, Rafael. Feitores do corpo, missionários da mente – Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
_____. Capitalismo & escravidão e a historiografia sobre a escravidão nas Américas. Estudos Avançados 26 (75), 2012.
_____. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX", Novos Estudos Cebrap, 74: 107-123, março 2006 (livre acesso em https://doi.org/10.1590/S0101-33002006000100007 _____. A dinâmica da escravidão no Brasil: um diálogo com as críticas. In: MARQUESE, R. Os Tempos Plurais da Escravidão no Brasil. Ensaios de História e Historiografia. São Paulo: Intermeios, 2020.
PRADO JÚNIOR, C. [1942]. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. 5. ed. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2000.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas cidades; Editora 34, 2012.
_____. Por que “Ideias fora do lugar”?. In: _____. Martinha versus Lucrécia: ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012a, p. 165-172.
_____. Agregados antigos e modernos (Entrevista). In: _____. Martinha versus Lucrécia: ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012b, p.173-183.
_____. Las ideas fuera de lugar: algunas aclaraciones cuatro décadas después. Políticas de la Memoria. Anuario de Investigación e Información del Centro de Documentación e Investigación de la Cultura de Izquierdas – CeDInCI, Buenos Aires, n. 10-11-12, 2011, p. 25-28.
_____. Discutindo com Bosi. In: _____. Sequências brasileiras. São Paulo: Companhia das. Letras, 2014, p. 73-103.
SLENES, Robert. Na senzala, uma flor. Campinas: Unicamp, 2011.
TOMICH, Dale. Through the Prism of Slavery – Labor, Capital, and World Economy. Lanham, MD: Rowman & Littlefield Publishers, 2004.

A Misura nos Tratados de Domenico da Piacenza e Guglielmo de Ebreo.

Responsável: Profa. Ma. Izis Dellatre Bonfim Tomass (Doutoranda – PGFILOS/UFPR)
Data de início: 31/05/2021
Data de término: 02/06/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido do/a ministrante:
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Paraná, com pesquisa na área de História da Filosofia, ênfase em História da Filosofia do Renascimento, Moderna e Contemporânea, aliada ao estudo dos conceitos civilizatórios e suas presenças na produção estética destes períodos. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, com dissertação acerca da dança como um dos fatores civilizadores chave de encarnação do conceito de virtude nos corpos dos indivíduos de corte, ao início do Renascimento italiano. Possui Graduação em Bacharel e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná. É membro do Grupo de Trabalho e de Pesquisa Histórias das Filosofias (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo /5729521120128274), vinculado ao Instituto Federal do Paraná, e do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia Moderna e Contemporânea (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6326303088004067), vinculado ao Departamento de Filosofia UFPR. Coordenadora do Núcleo de Filosofia do Corpo e Movimento IFPR-UFPR. Tradutora associada à Universidade de Michigan no projeto The Encyclopedia of Diderot and d?Alembert Collaborative Translation Project.

Sinopse:
O curso tem por objetivo a compreensão do dançar como uma importante ferramenta na disciplinarização dos corpos de corte na Itália quatrocentista. Ao nos atentarmos para o processo de civilização da sociedade ocidental, através de uma observação mais cuidadosa em relação às artes do corpo e, mais especificamente à dança, podemos encontrar já no século quinze italiano uma aprimorada técnica de viés civilizatório, a qual tem como pedra de toque o discurso da Virtù traduzido em uma imprescindível Misura corporal. Não à toa, é precisamente neste período o momento em que os considerados, até a presente data, primeiros tratados da dança ocidental foram escritos. Estruturados a partir de uma fundamentação teórica que alia uma justificação filosófica a regras de etiqueta, as obras de Domenico da Piacenza (De la arte di ballare et danzare, 1455) e Guglielmo de Ebreo (De pratica seu arte tripudii, 1463) determinam a Misura como a origem da dança, além de sublinhar a importância e propósito do dançar como ferramenta essencial no processo de materialização da Virtù nos corpos daqueles indivíduos. Destarte, analisaremos quatro principais elementos: i) como a dança e o
treino de sua técnica figuravam nestes ambientes de corte, ii) em que momento ela aparecia nas Feste e como era o conjunto de sua obra nestas ocasiões, iii) quais eram as prescrições de disciplina corporal disponíveis e em voga no período e iv) como a Misura é evidenciada nos tratados de Domenico da Piacenza e Guglielmo de Ebreo como o fator fundante do ato de dançar.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: A dança de corte no cenário italiano do século XV
Dia 1 - parte 2: As Feste italianas: seus temas e relevância política
Dia 2 – Parte 1: A Misura na disciplinarização corporal do período: algumas prescrições
Dia 2 – Parte 2: A Misura nos Tratados de Domenico da Piacenza e Guglielmo de Ebreo

Bibliografia e textos de interesse
BAXANDALL, Michael. Painting and experience in fifteenth century Italy: a primer in the social history of pictorial style. 2nd ed ed. Oxford [Oxfordshire] ; New York: Oxford University Press, 1988.
BERGHAUS, G. Neoplatonic and Pythagorean Notions of World Harmony and Unity and Their Influence on Renaissance Dance Theory. Dance Research: The Journal of the Society for Dance Research, v. 10, n. 2, p. 43,1992
BURKE, P. As Fortunas d'O Cortesão. São Paulo: Unesp, 1997.
BURKE, P. The Italian Renaissance: culture and society in Italy. Rev. ed. Princeton, N.J: Princeton University Press, 1987.
CONNELL, W. J. (ORG.). Society and individual in Renaissance Florence. Berkeley: University of California Press, 2002
CORBIN, A.; COURTINE, J.-J.; VIGARELLO, G. Histó ria do corpo. Petrópolis: Vozes, 2008.
DEAN, T. Land and power in late medieval Ferrara: the rule of the Este, 1350-1450. Cambridge ; New York: Cambridge University Press, 1988.
DOMENICO; SMITH, A. W. (ORGS.). Fifteenth-century dance and music: twelve transcribed Italian treatises and collections in the tradition of Domenico da Piacenza. Stuyvesant, NY: Pendragon Press, 1995.
FRIAÇA, A. Trivium et quadrivium: as Artes Liberais na Idade Média. Cotia: Íbis, 1999.
GREENBLATT, S. Renaissance self-fashioning: from More to Shakespeare. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
GROUT, D. J.; BURKHOLDER, J. P.; PALISCA, C. V. A history of western music. Ninth edition ed. New York: W. Norton & Company, 2014.
KRAYE, J. (ORG.). Cambridge translations of Renaissance philosophical texts. Cambridge ; New York: Cambridge University Press, 1997.
LOCKWOOD, Lewis. Music in Renaissance Ferrara, 1400-1505: the creation of a musical center in the fifteenth century. Pbk. ed. ed. Oxford ; New York: Oxford University Press, 2009.
LUBKIN, G. A Renaissance court: Milan under Galeazzo Maria Sforza. Berkeley: University of California Press, 1994.
MARCHI, L. Music and university culture in late fourteenth-century Pavia: The manuscript Chicago, Newberry Library, Case ms 54.1. Acta Musicologica, v. 80, n. 2, p. 143–164, 2008.
MARTINES, L. Power and imagination: city-states in Renaissance Italy. Johns Hopkins paperbacks ed ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1988.
MAZZATINTI, G. Inventario dei Manoscritti Italiani delle Biblioteche di Francia. Vol I. Roma: Presso I Principali Librai, 1886.
NEVILE, J. The eloquent body: dance and humanist culture in fifteenth- century Italy. Bloomington, IN: Indiana University Press, 2004.
PALISCA, C. V. Humanism in Italian Renaissance musical thought. New Haven: Yale University Press, 1985.
PANOFSKY, E. Renaissance and Renascences in Western Art. New York: Harper & Row Publishers, 1972.
PAULICELLI, E. Writing fashion in early modern Italy: from sprezzatura to satire. Farnham, Surrey, UK England ; Burlington, VT: Ashgate, 2014.
PIACENZA, Domenico. De la arte di ballare et danzare. Manuscrito, Ducado de Milão. Biblioteca Nacional da França. Departamento de manuscritos. Identificador: Italien 972.
PISAURIENSIS, Guilielmus Hebraeus. De pratica seu arte tripudii. Manuscrito, Biblioteca Sforza. Biblioteca Nacional da França. Departamento de manuscritos. Identificador: Italien 973.
RUGGIERO, Guido. The Renaissance in Italy: a social and cultural history of the Rinascimento. New York: Cambridge University Press, 2015.
SPARTI, B. The Function and Status of Dance in the 15th-Century Italian Courts. Dance Research, v. 14, n. 1, p. 42–61, 1996.
TREXLER, Richard C. Public Life in Renaissance Florence. Ithaca: Cornell University Press, 1991

A Filosofia como instrumento de reconhecimento do Diverso, do Múltiplo.

Responsável: Profa. Ma. Bárbara Canto (Doutoranda – PGFILOS/UFPR)
Data de início: 27/09/2021
Data de término: 29/09/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido da ministrante:
Possui Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (2011) e Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2018). Atualmente está inscrita no programa de pós graduação na Universidade Federal do Paraná no curso de Doutorado em Filosofia. Organizadora do I e II Colóquio Internacional Walter Benjamin (UFPR). É membro do Grupo de Trabalho e de Pesquisa Histórias das Filosofias (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo /5729521120128274), vinculado ao Instituto Federal do Paraná, e do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia Moderna e Contemporânea (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6326303088004067), vinculado ao Departamento de Filosofia UFPR.

Sinopse:
O curso se pautará na explicação de como a preponderância de um tipo de filosofar sufocou outras possibilidades de filosofia. Pretende-se demonstrar como a não observância de um dos principais requisitos do nascimento da Filosofia, a saber, o diálogo com o diferente, com o outro, dificultou o amadurecimento da própria Filosofia. Para isso nos debruçaremos em obras de autores e autoras que não se encontram entre o panteão dos grandes cânones da Filosofia, mas que possuem uma grande contribuição no que tange ao real exercício da Filosofia.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: Consolidação do modelo europeu de fazer Filosofia
Dia 1 - parte 2: Apagamento de matrizes filosóficas diferentes das do modelo europeu
Dia 2 – Parte 1: A reação: a Filosofia nas periferias do mundo
Dia 2 – Parte 2: Filosofia como espaço plural de debates, questionamentos e análise do mundo complexo em
que vivemos.

Bibliografia e textos de interesse
BALLESTRIN, L.. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília , n. 11, p. 89-117, Ago 2013.
BORSANI, M.A; QUINTERO. P. Introducción. Los desafíos decoloniales de nuestros días: pensar en colectivo . In: BORSANI, M.A; QUINTERO, P. Los desafíos decoloniales de nuestros días: pensar en colectivo. Neuquén: EDUCO - Universidad Nacional del Comahue, 2014
CARNEIRO, F.F.; GIRALDO, L.; RIGOTTO, R.M.; FRIEDRICH, K.; BÚRIGO, A.(orgs). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015.
CRUZ HERNÁNDEZ, D.T.. Una mirada muy otra a los territorios-cuerpos femininos. Solar, vol. 12, n.1, 2016.
DELGADO, G. Do capital financeiro na agricultura à economia do agronegócio: mudanças cíclicas em meio século (1965-2012). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012.
ESCOBAR, A. Mas allá del desarrollo: postdesarrollo y transciones hacia el pluriverso. Revista de Antropología Social, Madrid, vol.21, 2012
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Ed. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1968
FAUSTINO, C.; PACHECO, T.. A iniludível e desumana prevalência do racismo ambiental nos conflitos do mapa. IN: PORTO, M.F.; PACHO, T.; LEROY, J.P.. Injustiça e saúde no Brasil: o mapa de conflitos. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2013
GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, 2008, p. 115-147
HARVEY, D. O novo imperialismo. 8ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
MACHADO ARAÓZ, H. El auge de la Minería transnacional en América Latina. De la ecología política del neoliberalismo a la anatomía política del colonialismo. In: ALIMONDA, H. La naturaleza colonizada: ecología política y minería en América Latina. Buenos Aires: Clacso, 2011.
MERCHAND ROJAS, M.A. Neoextractivismo y conflictos ambientales en América Latina. Espiral, Guadalajara, v. 23, n. 66, p. 155-192, agosto 2016.
MESZAROS, I. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, 2009.
MIGNOLO, W. Retos decoloniales, hoy. IN: BORSANI, M.A; QUINTERO, P. Los desafíos decoloniales de nuestros días: pensar en colectivo. Neuquén: EDUCO - Universidad Nacional del Comahue, 2014.
PAREDES, J.. Hilando Fino, desde el feminismo comunitario. Bolivia, La Paz: Comunidad Mujeres Creando Comunidad, 2011.
PORTO-GONÇALVES, C.W; QUENTAL, P.A Colonialidade do poder e os desafios da integração regional na América Latina. Polis – Revista Latinoamericana, Santiago, no. 31, 2012.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. A colonialidade do saber, eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.
QUIJANO, A.. “Bien vivir”: entre el “desarrollo” y la des/colonialidad del poder. Horizontes sociologicos, Buenos Aires, no.1, 2015.
SANTOS, B.S. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 6ª. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2007.
SEGATO, R.L. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-cadernos CES, Coimbra, no.18, 2012.
WALSH, C. Lo pedagogico y lo decolonial: entretejiendo caminos. IN: WALSH, C. (org.). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I. Quito, Ecuador: Ediciones Abya-Yala, 2013.

Marilena Chauí ou a filosofia como um modo de vida

Responsável: Prof. Dr. Henrique Piccinato Xavier (USP) (ex-aluno FFLCH-USP)
Data de início: 30/08/2021
Data de término: 01/09/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido do ministrante
Doutorado (2013) e Mestrado (2008) em Filosofia pela Universidade de São Paulo e Bacharel em Artes Plásticas (Multimídia) (2003) pela Universidade de São Paulo. Possui atuação em ensino universitário nas áreas de poéticas visuais, filosofia moderna, filosofia contemporânea, estética, história da arte e crítica de arte. Possui atuação na área de curadoria de exposições e congressos. Além de atuação na área editorial com ênfase em livros de filosofia e de arte. É membro dos grupos de pesquisa: Grupo de Estudos Espinosanos (FFLCH-USP), Latesfip - Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (FFLCH-IP-USP) e NEXOS - Teoria Crítica e Pesquisa Interdisciplinar (UFABC)

Ementa:
Pode uma vida singular ser um problema filosófico? As aulas partem da incomum ideia proposta pela Professora e filósofa Marilena Chaui de que a filosofia não é uma mera profissão, mas um modo de vida. Iremos problematizar na obra da filósofa onde e como tal ideia vem a ser formada. Mais ainda, como esta ideia necessariamente envolve um embate entre filosofia e vida cotidiana e como Chaui, além de ser uma autora acadêmica, é uma reconhecida intelectual engajada cujos textos e ações produzem transformações na esfera pública brasileira, as aulas compreenderão a sua vida público-política e seus textos de intervenção, também, como parte significativa do problema abordado (este bastante sensível à condição de gênero da autora). Um certo modo de vida que ao pensar a partir de e para o seu tempo histórico necessariamente produz o contradiscurso de Chaui: ação filosófica, simultaneamente, política.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: A formação da ideia da filosofia como modo de vida.
Dia 1 - parte 2: A relação entre a academia e a vida cotidiana
Dia 2 – Parte 1: A Vida pública do intelectual e textos de intervenção.
Dia 2 – Parte 2: A gênese do contradiscurso.

Bibliografia
CHAUI, M (2006 a) ‘Do silêncio à palavra’ em Século XX: a mulher conquista o Brasil (org. Leonel Kaz & Nigge Loddi ), Aprazível Edições, Rio de Janeiro.
(2006 b) – “Intelectual engajado: uma figura em extinção?” em O silêncio dos intelectuais (org. Adauto Novaes), Companhia das Letras, São Paulo.
(2017) ‘Texto e contexto: a dupla lógica do discurso filosófico’ em Cadernos Espinosanos, São Paulo, n.37.
PRADO JR, B. (2007). ‘Vida e Filosofia’ [mímeo para discussão em curso na pós-graduação em filosofia] UFSCar, São Carlos.
SANTIAGO, H. (2018) ‘Espinosa contra a ditadura militar brasileira’ em Santa Barbara Portuguese Studies, v. 2, Santa Barbara.

Wilson Baptista e Paulinho da Viola: A História cantada a contrapelo.

Responsável: Prof. Me. Lucas Lipka Pedron (doutorando – PGFILOS/UFPR)
Data de início: 02/08/2021
Data de término: 04/08/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido do ministrante
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2016) e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2019). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: Lukács, filosofia da história, filosofia latino americana, filosofia brasileira e filosofia africana. É membro do Grupo de Trabalho e de Pesquisa Histórias das Filosofias (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo /5729521120128274), vinculado ao Instituto Federal do Paraná, e do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia Moderna e Contemporânea (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6326303088004067), vinculado ao Departamento de Filosofia UFPR.

Sinopse:
Este curso fará uma leitura da formação da cultura brasileira na sua gênese, relação e negação da cultura negra e da cultura popular de populações marginalizadas. Como linha teórica, faremos uma conjunção entre a crítica cultural marxista de Raymond Williams e Georg Lukács, usando como aporte ainda Antonio Gramsci e Walter Benjamin. No entanto, nosso foco será o samba, pensado aqui como um movimento de cultura popular que tem território, história, memória, tradição, heranças culturais; em suma, que é o que sobrevive de uma cultura não-hegemônica, ao passo que organiza outras formas de resistências à hegemonia cultural, econômica, social e política das elites. A expressão cultural de classes determinadas, em suas posições sociais determinadas, no arranjo do confronto das várias forças em ação na sociedade brasileira.
O samba, pela sua forma e pelo conteúdo próprio das suas canções, articula o que aqui chamaremos de uma memória social. Sendo o samba uma cultura residualmente oral, reproduz um elemento importante das culturas de tal tradição: a palavra, a poesia, a canção exercem um papel sempre fundamental na preservação das histórias da comunidade. Mais do que isso, é através dessa palavra recontada que a própria cultura se consolida para a comunidade. É o modo como são transmitidos os valores, as tradições, os regramentos; é por
essa palavra que são exaltadas as virtudes, condenados os vícios, e onde são lembrados os heróis e heroínas. É por essa palavra que se conhecem os mitos, as batalhas e guerras, as festas e celebrações. Em suma, toda a história da comunidade é criada e recriada através de cada nova contação; é a palavra viva, renascendo na fala do contador, tornando viva a memória de um povo. O canto que resguarda a memória social, que mantém viva as tradições, possui um duplo papel: ele exalta situações do cotidiano das comunidades, resguardando, através das músicas, as tradições e história coletiva, a memória da coletividade da qual ele pertence; ao mesmo tempo que exaltando tais situações, ele as caracteriza como práticas sociais da coletividade para a própria coletividade. Ele é expressão do seu meio, ao mesmo tempo que expressando o meio, o produz e perpetua. E compreenderemos esse movimento dialético através das composições de Wilson Baptista e Paulinho da Viola, e como suas músicas reverberam junto a história das comunidades, ao mesmo tempo que expressam os valores sociais, as virtudes e falam sobre as lutas das classes que expressam em seus sambas. Wilson e Paulinho são vistos aqui como sujeitos que produzem um artefato cultural, que é ao mesmo tempo a expressão da sua própria cultura (a cultura de sua classe), e a produção dessa mesma cultura. É a história da formação da cultura brasileira, cantada a contrapelo, a partir do samba carioca.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: Crítica cultural marxista sobre cultura popular e filosofia popular (Benjamin, Gramsci, Lukács,
Williams).
Dia 1 - parte 2: O canto da memória social: tradição, residual, oposição.
Dia 2 – Parte 1: Wilson Baptista: personagens e teses.
Dia 2 – Parte 2: Paulinho da Viola: guardião das raízes.

Bibliografia e textos de interesse
ABREU, Martha. Da senzala ao palco canções escravas e racismo nas Américas, 1870-1930. [s.l.]: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2017.
ABREU, Martha. O legado das canções escravas nos Estados Unidos e no Brasil: diálogos musicais no pós-abolição. Revista Brasileira de História, v. 35, n. 69, p. 177–204, 2015.
ABREU, Martha; XAVIER, Giovana; MONTEIRO, Livia; et al (Orgs.). Cultura negra: festas, carnavais e patrimônios negros. Niterói: EDUFF, 2018.
ALBUQUERQUE, Wlamyra. O samba no sobrado da baronesa: liberdade negra e autoridade senhorial no tempo da abolição. Revista Brasileira de História, v. 38, n. 79, p. 173–192, 2018.
BENISTE, José. História dos candomblés do Rio de Janeiro: o encontro africano com o Rio e os personagens que construíram sua história religiosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.
BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Trad. João Barrento. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
BENJAMIN, Walter; LAVELLE, Patricia; OTTE, Georg; et al. A arte de contar histórias. [s.l.: s.n.], 2018.
BOCSKAY, Stephen A. Voices of Samba: Music and the Brazilian Racial Imaginary, 1955-1988. 2012. Disponível em: < https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:297731/ >. Acesso em: 22 dez. 2020.
CANDEIA; ISNARD. Escolas de Samba: a árvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro: Lidador/Seec, 1978.
CASTRO, Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste ; escravista - Brasil século XIX. 3. ed., rev. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2013.
CASTRO, Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2000. (Coleção Descobrindo o Brasil).
CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. Campinas, SP, Brasil: Editora da Unicamp, 2001.
FRANCESCHI, Humberto Moraes M. Samba de sambar do Estácio: 1928 a 1931. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere volume 1: Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 7v.
LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antonio. Dicionário da história social do samba. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
LÖWY, Michael. Walter Benjamin aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Trad. Wanda Nogueira Caldeira Brant, Jeanne Marie Gagnebin; Marcos Lutz Müller. São Paulo: Boitempo, 2007.
LUKÁCS, György. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. Trad. Rodnei Nascimento. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
LUKÁCS, György. Reboquismo e dialética: Uma resposta aos críticos de História e consciência de classe. Trad. Nélio Schneider, Michael Löwy; Nicolas Tertulian. São Paulo: Boitempo, 2015.
MARIA CLEMENTINA PEREIRA CUNHA. “Não me ponha no xadrez com esse malandrão”. Conflitos e identidades entre sambistas no Rio de Janeiro do Início do Século XX. Afro-Ásia, n. 38, p. 179–210, 2008.
MÁXIMO, João; DIDIER, Carlos. Noel Rosa: uma biografia. Brasília: Editora Universitária de Brasília; Linha Gráfica Editora, 1990.
SIQUEIRA, Magno Bissoli. Samba e identidade nacional: das origens à Era Vargas. 1. ed. São Paulo, SP: Editora UNESP, 2012.
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2012.
WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. Trad. André Glaser. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

Comentando Clarice Lispector: as pulsações espinosanas e lacanianas

Responsável: Prof. Bruno Henrique de Souza Soares (Mestrando – FFLCH/USP)
Data de início: 18/10/2021
Data de término: 20/10/2021
Horário: vespertino
Carga horaria: 4h

Currículo resumido do ministrante
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e Mestrando em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Dedica-se ao estudo da gênese da superstição na filosofia de Espinosa. Este diz no Prefácio do Tratado Teológico-Político que a superstição tem como causa o medo e a esperança, justamente pelos homens desejarem imoderadamente bens incertos, levando-os a atribuir explicações delirantes ou extravagantes sobre as coisas, imaginando-as ao invés de compreendê-las; ao mesmo tempo que afirma que se trata de uma condição a que estamos todos naturalmente sujeitos. Ao passo que no Apêndice da Parte I da Ética a superstição se mostra como um modo de imaginar que substitui a compreensão da causa de algo por uma ideia de finalidade que se fundamentaria a partir da noção de livre-arbítrio. Portanto, a superstição se relaciona com a ideia de livre arbítrio, como imaginação de uma vontade livre que se supõe como escolha livre de determinações. Deste modo, a problematização da superstição perpassa uma crítica à noção de livre-arbítrio, que exige uma compreensão da relação entre o corpo e mente humana, assim como um entendimento da afetividade humana. Nesse sentido, o presente projeto visa abordar a gênese da superstição nas dimensões ontológica, gnosiológica e afetiva. Pois, à medida que Espinosa define a servidão como impotência para moderar e coibir os afetos (E IV Praef), e que o ato de imaginar simplesmente, ou seja,
imaginar algo como livre de causas, seja o maior de todos [maximus] os afetos (E V, P5), interessa compreender qual dinâmica de afetos opera na manutenção da Servidão por meio da superstição.

Sinopse:
O curso buscará realizar uma leitura comentada de Clarice Lispector, como um convite à apreciação de sua prosa poética singular, críptica por vezes, de modo a que ela possa nos revelar alguns ecos a respeito da existência humana. Nesses ecos, encontram-se, entre tantas leituras e releituras de mundo, duas concepções que interessa-nos pôr em relevo a partir da letra de Clarice: a filosofia de Espinosa e a psicanálise de Lacan.
Nesse sentido, interessa menos uma consideração de tipo unificante entre duas abordagens de difícil sincronia, e muito mais considerar no ato singular da criação poética da autora como a ontologia de Espinosa se expressa, assim como emerge considerações existenciais irmanadas com a psicanálise de Lacan. O que parece estar em jogo são duas fontes equânimes que marcam as pulsações de uma parte, quiçá significativa, da sua elaboração pessoal, que recebem o nome de criação literária. Marcadores importantes na literatura de Clarice, Espinosa e Lacan parecem pulsar nas suas obras, um impulso que acontece, mas não é, e não precisa ser tematizado por ela, posto que têm existência e nos parece articular o seu ritmo. De um lado, percebemos concepções espinosanas: tais como a diferença entre o atributo pensamento e os modos de expressão do pensamento pela via da extensão ao corporificar essa diferença plasticamente em personas; além da adesão a uma concepção de uma “substância-natureza” no melhor estilo espinosano; assim como também é perceptível a recorrência ao vazio e à angústia no seio do ser, que move o desejo, como signo da falta, em sua literatura, assim como o exercício de circundar com palavras o indizível, tal como a verbalização próprio do campo do simbólico tenta se acercar do campo do real, em chave lacaniana. Para tanto, a leitura de excertos de Clarice será um convite coletivo para observarmos nessa tessitura, fios cruzados, de diferentes linhagens, talvez até com espessuras distintas, mas que produzem um resultado impressionante. Admirar a escolha desses fios, acompanhar o cruzamento insuspeito que Clarice escolhe ao tecer sua prosa poética, é o exercício que propomos. E nesse ato de observação, que se dirige primariamente à sensibilidade, à nossa capacidade de percepção e até certo ponto, à nossa imaginação, abrir caminhos, pluralmente, para uma compreensão viva e dinâmica dos impulsos filosóficos e psicanalíticos que confluem na escritura que atesta, ao que parece, um esforço de elaboração psíquica, que foi a forma dela afirmar a sua potência de ser e existir no mundo. E nisso, certamente, temos a aprender nessa charneira indistinta entre vida e obra.

Metodologia
Dia 1 – parte 1: Clarice Lispector e as pulsações espinosanas – o lado indômito da vida: as batidas do coração
estreitamente selvagem
Dia 1 - parte 2: Ordem natural e ordem comum: a vida percebida como parte integrante da Natureza infinita e
o encontro de si no cosmos
Dia 2 – Parte 1: Clarice Lispector e a as pulsações lacanianas: angústia existencial, vazio, e o preenchimento de
si na vida; obra como elaboração da vida
Dia 2 – Parte 2: Esforço de dizer o indizível, logro, e a opacidade do Real e a insistência do Simbólico como
circundar o que é; tessituras de múltiplos sentidos visando o sem sentido

Bibliografia e textos de interesse
ESPINOSA, B. Ética. Trad. Grupo de Estudos Espinosanos; coordenação Marilena Chauí. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1ª ed.; 2ª reimp., 2018.
__________. Tratado da Emenda do Intelecto. Trad. e notas de Cristiano Novaes de Rezende. Campinas: Editora da Unicamp, 1ª ed., 2015.
__________. Tratado Teológico-Político. Trad., introdução e notas Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2003.
FREUD, S. Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (1920-1923). Coleção Obras Completas de Sigmund Freud, vol. 15. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
__________. Inibição, sintoma e angústia e outros textos (1926-1929). Coleção Obras Completas de Sigmund Freud, vol. 17. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
HOMEM, Maria L. No limiar do silêncio e da letra. 1ª ed. São Paulo: Ed. Boitempo, 2012.
LACAN, Jacques. Seminário 10. A angústia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2005.
LACAN, Jacques. Seminário 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964). 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2008.
LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Ed. Sabiá, 1969.
_________. Um sopro de vida. Pulsações. Rio de Janeiro: Ed, Nova Fronteira, 1978.
_________. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Ed, Nova Fronteira, 1984.
_________. Perto do Coração Selvagem. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998.
MOSER, B. Clarice, uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Ed. Cosac Naify, 2013.
OLIVA, Luís C e XAVIER, Henrique P. Clarice e Espinosa: batidas (des)ordenadas entre dois corações. In: Jornada Espinosa e a cultura de língua portuguesa (2018) – organizado pelo grupo de estudos espinosanos da USP. Acesso em: <https://sbps.spanport.ucsb.edu/sites/secure.lsit.ucsb.edu.span.d7_sbps/…;

Encontros e desencontros: Notas sobre o Averroismo e o Espinosismo e a superação da teologia na política.

Responsável: Prof. Me. Marcos Antonio de França (Doutorando – PGFILOS/UFPR)
Data de início: 08/11/2021
Data de término: 10/11/2021
Horário: vespertino
Carga horária: 4h

Currículo resumido do ministrante
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2012) e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2017). Atualmente é orientando de outoramento da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia Árabe, Moderna e Brasileira. É membro do Grupo de Trabalho e de Pesquisa Histórias das Filosofias dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo
/5729521120128274), vinculado ao Instituto Federal do Paraná, e do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia Moderna e Contemporânea (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6326303088004067), vinculado ao Departamento de Filosofia UFPR.

Sinopse:
Dentre os “ismos” que permeiam a história da filosofia, dois merecem atenção especial por seu profundo impacto à época: o “averroísmo”, surgido no séc. XII, e o “espinosismo”, no séc. XVI. Em comum, ambos dão como solução para a relação entre política e razão a condição da política estar separada dos preceitos teológicos. Estado e religião seriam incompatíveis dentro do estado de razão. De forma introdutória, o cursobuscará, por meio de um diálogo entre elementos do Tratado Decisivo de Ibn Rushd (Averrois) e do Tratado Teológico-Político de Espinosa, estabelecer os pontos pelos quais esta aproximação ocorre.

Metodologia.
Dia 1 – parte 1: Quem é Ibn Rushd.
Dia 1 – parte 2: O que é o averroísmo.
Dia 2 – parte 1: Espinosa e a polêmica do TTP
Dia 2 – parte 2: Porque a história, em seu modelo canônico, tem sempre a tendência de ser sempre contada pelos vencedores.

Bibliografia principal.
ATTIE FILHO, M. Falsafa – a filosofia entre os árabes, uma herança esquecida. SP. Ed. Palas Athena, 2002.
AVERROIS. Discurso decisivo. Tradução Márcia Valéria M. Aguiar. SP. Martins Fontes 2005.
_______ Exposición de la “República de Platón”. Estudio preliminar, tradución y notas de Miguel Cruz Hernandez. Madri: Editorial Tecnos S. A. 1996.
_______L’Incoerenza dell’Incoerenza dei Filosofi. Trad. Massino Campanini. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1997
AQUINO, TOMÁS DE. Sobre la unidad del intelecto contra los averroístas. Introducción, traducción y notas: Ignácio Pérez Constanzó y Ignacio Alberto Silva. Pamplona, Eunsa, 2014.
CHAUÍ, M. A nervura do real, Imanência e Liberdade em Espinosa. V.1. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
_______ A nervura do real, Imanência e Liberdade em Espinosa. V.2. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
COCCIA, E. Filosofia de lá imaginación, Averroes y el averroísmo. Buenos Aires. Adriana Hidalgo Editora S.A. 2007.
ESPINOSA, Bento de. Tratado Teológico-político. Tradución, introducción, notas y índices de Atilano Dominguez. Madri: Alianza, 1986b.
_______Tratado político. Tradución, index analítico y notas de Atilano Dominguez. Madri: Alianza, 1986c.
HERNÁNDEZ, M. C. La filosofia árabe. Madrid. Revista do Occidente S.A.,1963.
LIBERA, ALAIN DE. A filosofia medieval. Tradução: Lucy Magalhães. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1989.
________ Arqueologia do Sujeito, nascimento do sujeito. Tradução: Fátima Conceição Murad. São Paulo. Editora Fap-Unifesp, 2013.
________ Pensar na Idade Média. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1999.
________Averroès et l’averroïsme. Paris. Presses Universitaires de France, 1991.
LORCA, A. M. Introducción a la filosofia medieval. Madrid. Alianza Editorial, 2014.
SOLÉ, M. J. Spinoza em Alemania: Historia de la santificacion de un filósofo maldito. Buenos Aires: Editorial Brujas, 2011.
________El ocaso de la ilustración, la polémica del spinosismo. Seleción de textos, traducción, estúdio preliminar y notas. Buenos Aires. Universidad Nacional de Quilmes, 2013.
OLASO, M. A. Spinoza. Filosofía, pasiones y política. Madrid. Alianza Editorial, 1988.