Programa

Introdução à 'era trágica' de Nietzsche

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Aula 1 (2h) – O Filósofo como médico do povo
Por que a Era Trágica?


Apresentação do lugar da Filosofia na era trágica dos gregos na obra nietzschiana e da discussão quanto ao projeto filosófico de Nietzsche entre o Nascimento da Tragédia e o seu rompimento com Richard Wagner. Discussão das diferentes preocupações que circundam os textos do autor no período.
O problema dos “médicos do povo”
Análise da metáfora medicinal presente em diversos momentos-chave dos textos do período, apontando-a como articuladora na tarefa de determinação da figura e função da Filosofia diante da problemática da Cultura.
Saúde e Cultura – o problema da unidade
A noção de unidade orgânica, de raiz kantiana, praticamente se identifica com a ideia de Saúde mobilizada por Nietzsche para seus juízos em relação às esferas de determinação da experiência internas à cultura (ciência, religião, filosofia, arte etc.). A colaboração para uma maior integração ao Todo é a medida fundamental do pensamento nietzschiano deste período.

Aula 2 (2h) - Os gregos e a História da filosofia
Os gregos de Nietzsche – entre o ideal clássico e o romântico
O lugar da antiguidade clássica no pensamento nietzschiano está intrinsicamente ligado a esse mesmo ideal de unidade orgânica entre o Todo e seus elementos constituintes. Assim como para o helenismo idealista de Schiller e Goethe, os gregos são tomados como medida de um povo sadio e “integral”, principalmente no que se refere à relação entre pensamento e ação. Diferentemente destes, porém, a ênfase schopenhaueriana no fundamento metafísico da Vontade terá consequências profundas nesta idealização.
A filosofia e sua história
Nietzsche possui, desde cedo, a consciência do laço entre a filosofia e sua historicidade, e o estabelecimento do que seja a Filosofia e da possibilidade de sua historicidade atravessará diversos textos do período, inclusive a Era Trágica. A necessidade de uma narrativa da origem da filosofia que leve em conta os pressupostos da unidade entre pensamento e vida é um dos problemas centrais deste pensamento.

Aula 3 (2h) – O Filósofo como legislador dos valores
O sábio e o gosto (sophós)
A postulação, feita na Era Trágica, de uma hipótese filológica em que o sentido do grego sophós estaria ligado a um discernimento de valores e grandezas que remeteria ao gosto apurado é o ponto mais importante da especulação nietzschiana quanto à figura do “médico do povo”. Neste ponto se encontra não apenas a justificação da figura e função da Filosofia diante de um critério salutar quanto uma caracterização original da figura do filósofo que, já antecipando ideias posteriores de Nietzsche, tem seu campo de ação e relevância no registro axiológico da Cultura.
Alguns dilemas que permanecem no pensamento nietzschiano
Concluindo, serão apresentados certos pontos problemáticos na especulação nietzschiana sobre a Cultura, particularmente no que se refere à relação entre a totalidade e o indivíduo. Como será demonstrado, o deslocamento posterior dos conceitos de unidade, saúde e valor será determinado mais por necessidades internas ao pensamento nietzschiano da cultura do que pelo rompimento com certos ideais wagnerianos.


Referências Bibliográficas (serão oferecidas traduções de trabalho dos textos em língua estrangeira):
NIETZSCHE, F. – “A Filosofia na Era Trágica dos Gregos” org. e trad.: Fernando R. de Moraes Barros – São Paulo: Hedra, 2008.
______________ - “Les philosophes préplatoniciens” Org. Paolo D’Iorio, trad. Nathalie Ferrand – Paris: Éditions de L’éclat, 1994.
______________ - “On the origins of Language” trad. CRAWFORD, C. In: CRAWFORD, C. – “The Beginnings of Nietzsche’s Theory of Language” – Berlim, Nova Iorque: De Gruyter, 1988, vol. 19.
______________ - “Sobre a utilidade e a desvantagem da história para a vida” trad. André Itaparica – São Paulo: Hedra, 2017.
______________ - “Nietzsche: obras incompletas” trad. e notas: Rubens Rodrigues Torres Filho – São Paulo: Abril Cultural, 1979, 2ª ed.
______________ - “Os filósofos trágicos” (fragmentos) trad. Rubens Rodrigues Torres Filho; In: “Coleção Os Pensadores - Os pré socráticos” – São Paulo: Nova Cultural, 1996.
_____________ - “Correspondencia II (Abril 1869- Diciembre 1874)” trad. e notas: José Manuel Romero Cuevas e Marco Parmeggiani – Madrid: Editorial Trotta, 2007.
Referências secundárias
ANDLER, C. – “Nietzsche: vida e pensamento” trad. Regina Schöpke e Mauro Balaldi – Rio de Janeiro: Contraponto Editora; PUC – Rio, 2016. Vol. 1.
AGAMBEN, G. “Gosto” trad. Cláudio Oliveira – Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
BLONDEL, E. – “Nietzsche: a vida e a metáfora” trad. Fernando de Moraes Barros; In: MARTON, S. (Org.) – “Nietzsche, um ‘francês’ entre franceses” – São Paulo: Barcarolla, 2009.
CAVALCANTI, A. H. – “Símbolo e Alegoria: a gênese da concepção de linguagem em Nietzsche” – São Paulo: Annablume, 2005.
COLLI, G. – “Scritti su Nietzsche” – Milão: Adelphi, 2008 – 5ª ed.
CRAWFORD, C. – “The Beginnings of Nietzsche’s Theory of Language” – Berlim, Nova Iorque: De Gruyter, 1988, vol. 19.
DELEUZE, G. - “Nietzsche et la Philosophie” – Paris: PUF, 1970.
HADOT, P. – “O que é a Filosofia Antiga?” trad. Dion Davi Macedo – São Paulo: Loyola, 2017.
HEIDEGGER, M. “Introdução à Filosofia” trad. Marco Antonio Casanova – São Paulo: Martins Fontes, 2009.
MACHADO, R. “Nietzsche e a Verdade” – Rio de Janeiro, Rocco, 1984.
____________ - “Novas liras para novas canções: reflexões sobre a linguagem em Nietzsche”; In: Ide, v. 30 (44). 2007.
MARTON, S. (Org.) - “Dicionário Nietzsche” – São Paulo: Loyola, 2016.
MELÉNDEZ, G. – “Sistema filosófico e personalidade segundo o jovem Nietzsche. Uma leitura dos prólogos de A filosofia na era trágica dos gregos”; In: NASSER, E., RUBIRA, L. (Org.) “Nietzsche no século XXI” – Porto Alegre: Zouk, 2017
SOUTO, Marcelo L.V. – “‘Lições sobre os filósofos pré-platônicos’ e ‘A Filosofia na época trágica dos gregos’: um ensaio comparativo”; In: Cadernos Nietzsche - 13, São Paulo, pgs. 37 a 66, 2002.
WOTLING, P. – “Nietzsche e o Problema da Civilização” trad. Vinícius de Andrade – São Paulo: Editora Barcarolla, 2013.