Programa

AULA 1: Jean-Paul Sartre: da náusea ao engajamento.
Tópicos previstos:
1. Breve introdução biográfica: a formação; a importância de Husserl; a concepção de A Náusea; duas peças de resistência durante a ocupação alemã; a virada pública: o existencialismo, Les Temps modernes e a literatura engajada.
2. A Náusea: a) a forma do diário encontrado; b) a náusea como reação à inescrutabilidade da coisa: a náusea metafísica e a náusea corporal; c) o solipsismo, a incomunicabilidade e o anti-humanismo; d) a arte como redentora?
3. O Existencialismo é um Humanismo: a) o que o existencialismo não é; b) liberdade e responsabilidade: uma proposta de superação da dicotomia entre o individualismo e o coletivismo; c) o humano como projeto.
4. Que é a literatura? [centro da aula]: a) o escritor burguês e seus públicos virtuais; b) a capacitação ao engajamento: o que a literatura de prosa tem que as outras artes não têm?; c) a crise da linguagem; devolver a dignidade à palavra; d) a crise do público; a formação de uma comunidade de leitores; e) a literatura de situações: o sutil equilíbrio entre a determinação e a indeterminação; f) a cada um, sua saída.

AULA 2: Cancelem Georges Bataille: a Literatura e o Mal.
Tópicos previstos:
1. Breve introdução biográfica: a infância traumática e a breve conversão religiosa; o surrealismo é um idealismo?; o antirracionalismo e o anti-utilitarismo; a intensa produção das revistas; o engajamento político, o fanatismo ou nada; um novo místico; gênese de A Literatura e o Mal em artigos da revista Critique entre 1946 e 1952; uma obra sem contornos.
2. Quase intransitivamente anti-...: trechos de artigos das revistas Documents e Acéphale: a) o anti-idealismo; b) o anti-esteticismo; c) a figura humana e a decomposição do antropomorfismo; d) descontinuidade e continuidade do ser; o interdito e a transgressão.
3. A Literatura e o Mal [centro da aula]: a) o Mal como essência não-utilitária; a2) Eros e o Mal: a morte do eu como proliferação; b) a literatura como culpa e confissão de todos; c) a morte do eu como morte da autoria; d) a literatura como comunicação: entre o isolamento e a morte, a transgressão.

AULA 3: Falhando novamente em compreender a “obrigação de expressar” de Samuel Beckett
Tópicos previstos:
1. Breve introdução biográfica: formação; o encontro com Joyce; o Proust de Beckett; “ficando conhecido”, os primeiros fracassos de público; breve lista de leituras filosóficas e psicanalíticas; “more pics than kicks”: a viagem à Alemanha nazista; a resistência e a espera na guerra; a epifania, a adoção do francês e as reflexões que precederam o frenesi de escrita.
2. Carência de sincronização: a dessincronia do sujeito-objeto e a incomunicabilidade: a) a expressão indireta do que é apreendido indiretamente; b) leitor de si mesmo, “meu ovo!”: a expressão da incomunicabilidade como o particular, o universal, e a leitura possível.
3. A terra-de-ninguém: o imperativo da atualidade formal e o que resta ao poeta expressar: a) dissertação não é literatura; a inseparabilidade de forma e conteúdo; b) desantropomorfização: o incomensurável ali e aqui.
4. A Carta alemã: o que as outras artes têm que a literatura não tem?: a) furos na linguagem; “raspando as cores para o mofo aparecer”.
5. O paradoxo do caos e da forma: trechos de Três diálogos e de mais uns tantos: a) a falha como fidelidade à realidade e como desafio à arte.
6. O único aspecto positivo que (dizem que) Beckett teria atribuído à tarefa do artista.

A listagem bibliográfica está dividida em quatro seções: bibliografia básica, bibliografia complementar em português, bibliografia em inglês e bibliografia em francês.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Trad. de Fernando Schreibe. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
BECKETT, Samuel. “Carta de Samuel Beckett a Axel Kaun, a ‘Carta Alemã’ de 1937”; “Três Diálogos com Georges Duthuit (1949)”. Trad. de Fábio de Souza Andrade. In: ANDRADE, Fábio de Souza. Samuel Beckett: O Silêncio Possível. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, pp. 167-182.
SARTRE, Jean-Paul. Que é a Literatura?. Trad. de Carlos Felipe Moisés. Petrópolis: Ed. Vozes, 2015.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR EM PORTUGUÊS:
BATAILLE, Georges. O azul do céu. Trad. de Maria Lucia Machado. São Paulo: Brasiliense, 1986.
__________________. História do Olho. Trad. e prefácio de Eliane Robert Moraes. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
__________________. A parte maldita — Precedida de “A noção de dispêndio”. Trad. de Júlio Castañon Guimarães. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
__________________. O erotismo. Trad. de Antonio Carlos Viana. Porto Alegre: L&PM, 1987.
BECKETT, Samuel. Proust. Tradução de Arthur Nestrovski. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
BRETON, André Manifestos do Surrealismo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
FERREIRA, Sílvia Raimundi. “Porque retomar a noção de experiência em Georges Bataille”. In: Deslocamentos/Déplacements, v. 1, n. 1, p. 13-23, jun/nov. 2019, pp. 13-23.
JACQUES DE MORAES, Marcelo, “Georges Bataille e as formações do abjeto”. In: Revista Outra Travessia. UFSC. Ilha de Santa Catarina - 2o. Semestre, 2005, pp. 107-120.
MORAES, Eliane Robert. O corpo impossível. A decomposição da figura humana: de Lautréamont à Bataille. São Paulo: Fapesp/Iluminuras, 2002.
SANTOS, João Lucas Alves. “Arte e experiência interior: uma visão da experiência estética a partir do erotismo em Georges Bataille”. In: Grau Zero — Revista de Crítica Cultural, v. 6, n. 1, 2018, pp. 111-25.
SARTRE, Jean-Paul. A Imaginação. Trad. de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2008.
_________________. A Náusea. Trad. de Rita Braga. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
SOARES, Cristina E. S. Georges Bataille e a violência da Experiência Interior: da Soberania inútil ao Êxtase da comunicação literária. Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.

BIBLIOGRAFIA EM INGLÊS:
BATAILLE, Georges; BOTTING, Fred (Org.); WILSON, Scott (Org.). The Bataille Reader. Malden: Blackwell Publishers, 1997.
__________________.; STOEKL, Allan (Org.). Visions of Excess: Selected Writings, 1927-1939. Tradução para o inglês por Allan Stoekl, Carl R. Lovitt e Donald M. Leslie Jr. Minnesota: University of Minnesota Press, 1985.
BECKETT, Samuel. Disjecta. Ed. Ruby Cohn. Nova York: Grove Press, 1984.
_______________. Proust and Three Dialogues with Georges Duthuit. Londres: John Calder Publishers, 1999.
_______________. The letters of Samuel Beckett – Vol. I: 1929 – 1940. Ed. M. Fehsenfeld e L.M. Overbeck. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
_______________. The letters of Samuel Beckett – Vol. II: 1941 – 1956. Ed. G. Craig, D. Gunn, L.M. Overbeck e M. Fehsenfeld. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
FELDMAN, Matthew. Beckett’s Books. London: Ed. continuum, 2008.
GUERLAC, Suzanne. Literary Polemics — Bataille, Sartre, Valéry, Breton. Stanford : Stanford University Press, 1997.
LE JUEZ, Brigitte. Beckett before Beckett. Trad. para o inglês por Ros Schwartz. Londres: Souvenir Press, 2010.
NIXON, Mark. Samuel Beckett’s German Diaries 1936–1937. Londres: Continuum International Publishing Group, 2011.
NOYS, Benjamin. Georges Bataille – a critical introduction. London: Pluto Press, 2000.
STOEKL, Allan (Org.). On Bataille. New Haven : Yale University Press, 1990.
WINNUBST, Shannon (Org.). Reading Bataille Now. Bloomington: Indiana University Press, 2007.

BIBLIOGRAFIA EM FRANCÊS:
BATAILLE, Georges. Œuvres complètes. I à XII, Paris : Gallimard, 1970 a 1992.
SARTRE, Jean-Paul. Huis clos suivi de Les mouches. Paris : Éditions Gallimard, 1947.
_________________. La Nausée. Paris: Éditions Gallimard, 2017.
_________________. L’existentialisme est un humanisme. Paris : Les Éditions Nagel, 1966.
_________________. Situations I. Essais critiques Paris: Gallimard, 1947.
_________________.Situations II. Littérature et engagement. Paris: Gallimard, 1948.
_________________. Situations III. Lendemains de guerre. Paris: Gallimard, 1949.
SURYA, Michel. Georges Bataille, la mort à l’oeuvre. Paris: Gallimard, 1992.