Programa

O programa conta com cinco aulas de duas horas cada. O 1º bloco de aulas visa a apresentar o aluno ao tema da analogia em geral e sua elaboração em Kant. O 2º bloco visa a fornecer ao aluno uma interpretação possível de um tema da história da Filosofia a partir do tema da analogia.

1º Bloco:

1ª Aula: Apresentação geral do tema da analogia.
Para apresentar o tema da analogia utilizaremos os exemplos de Descartes (analogia do animal-máquina) e de Hume (analogia da circulação do sangue nas plantas e animais), bem como outros exemplos ainda presentes na linguagem contemporânea, como as analogias utilizadas pela Economia, que compara o Estado a um organismo, ou as analogias utilizadas pela neurociência, que entende o cérebro como um computador. Insinuaremos brevemente a que conclusões essas analogias necessariamente levam, se tomadas seriamente.

2ª Aula: Apresentação da concepção analógica de Kant
Apresentaremos as asserções contidas a esse respeito na Lógica Jäsche, que distingue com maior precisão, ao contrário do que fazia Hume, analogia de inferência analógica. Um autor fundamental para comentar essa passagem é François Marty, e sua obra “La Naissance de la Métaphysique chez Kant”. Enfatizaremos, a partir da Lógica Jäsche, que, para Kant, a analogia se faz dentro do mesmo gênero, o que significa que se deve tomar muito cuidado para não aproximar analogicamente objetos totalmente díspares entre si. Desse modo, contraporemos à analogia cartesiana as asserções feitas no §90 da CFJ.

3ª Aula: Exposição de um uso kantiano da analogia
Em consonância com o que foi dito na aula passada, retomaremos a discussão do §90, acrescentando as reformulações da teoria do esquematismo presentes no §59 desse mesmo livro, com especial atenção para a analogia que Kant estabelece entre o Estado monárquico e um organismo, e o Estado despótico e o moinho manual. Traremos, em perspectiva, a concepção de Thomas Hobbes, que no início do Leviatã, traça diversas analogias do Estado e do organismo, mas pensa ambos a partir de um modelo mecânico.

2º Bloco:

4ª Aula: Que aproximações são possíveis?
Depois de ter, em linhas gerais, apresentado o tema da analogia bem como sua tematização a partir de Kant, ganhamos a possibilidade de discutir as posições kantianas mais a fundo. Para tanto, inspirar-nos-emos no capítulo VIII de “Kant e o Fim da Metafísica” de Gérard Lebrun, intitulado “O simbolismo analógico”. Com esta referência desejamos aprofundar a discussão acerca do critério lógico da analogia, bem como do critério material, mostrando como a analogia descuidada ignora as diferenças qualitativas entre os objetos, estabelecendo apenas diferenças quantitativas e, com bastante frequência, lastreia teses metafísicas que não poderiam existir sem ela. Assim, faremos referência ao §80 da CFJ onde identificamos um momento em que o próprio Kant recua de um procedimento analógico comum à sua época, mas que falhava ainda em fazer ressaltar o critério para a aproximação de objetos díspares. Mostraremos a partir desse registro como o uso correto da analogia pode indicar um outro caminho analógico para o próprio Kant.

5ª Aula: A mathesis
Dando continuidade ao desenvolvimento da aula passada, concluiremos com uma aplicação possível do tema da analogia para a compreensão de uma interpretação acerca da história da Filosofia. Desejamos situar a mudança de epistemé apontada por Foucault em “As Palavras e as Coisas” a partir do tema da analogia. Desse modo, exploraremos a conexão do que se deve licitamente entender pela mathesis, que é característica, segundo esse filósofo, da Idade Clássica da representação, e o uso inadequado, segundo a perspectiva de Kant, da analogia. Para tanto também levaremos em conta o livro supracitado de Lebrun, bem como o artigo, “Note sur la Phénoménologie dans Les Mots et les Choses”.

Referências Bibliográficas:

DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

DIDEROT, D. Da interpretação da natureza e outros escritos. Trad. Magnólia Costa Santos. São Paulo: Iluminuras, 1989.

HUME, D. Tratado da natureza humana. trad. Debora Danowski. 2a ed. São Paulo: Unesp, 2014

KANT, I. Crítica da Faculdade de Julgar. Trad. Fernando Costa Mattos. Petrópolis: Vozes, 2016.

________. Lógica. Tradução do texto original estabelecido por Gottlob Benjamin Jäsche de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 2011.

LEBRUN, G. Kant e o Fim da Metafísica. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

________. Note sur la Phénoménologie dans Les Mots et les Choses. In: Michel Foucault Philosophe, Rencontre Internationale, Janvier 1988. Paris: Seuil, 1989.

________. Œuvre d’art ou œuvre de l’art in Kant sans kantisme. 1. Ed. Paris: Fayard, 2009.

LENOIR, T. Kant, Blumenbach, and Vital Materialism in German Biology. Isis, v. 71, n. 1, p.77-108, 1980.

MARQUES, António. Organismo e Sistema em Kant. Lisboa: Editorial Presença, 1987.

MARTY, François. La Naissance de la Métaphysique chez Kant. Paris : Éditions Beauchesne, 1980.

RICHARDS, Robert, J. Kant and Blumenbach on the Bildungstrieb: A Historical Misunderstanding. Stud. Hist. Phil. Biol; & Boimed. Sci., v. 31, n. 1, p. 11-32, 2000.

SCHLANGER, J. Les Métaphores de l’organisme. Paris : Vrin, 1917.