Programa

Aula 1: 10/8 (terça-feira) - Qualquer um em Agnès Varda (Fernanda Almeida)
Esta aula caracterizará a figura do “qualquer um”, por meio de uma análise interpretativa dos filmes L’Opéra-Mouffe (1958) e Les Glaneurs et la Glaneuse (2000), de Agnès Varda. A chave de leitura proposta sugere, com o auxílio de Giorgio Agamben e Jacques Rancière, que essa figura é constituída de modo terno, afetuoso e generoso, responsável por lançar luz sobre a nossa existência compartilhada no mundo.

Bibliografia:
AGAMBEN, Giorgio. O amigo. In: O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009, p. 77-92.
BORGES, Cristian; CAMPOS, Gabriela; AISENGART, Ines. (Org.) Agnès Varda – o movimento perpétuo do olhar. Rio de Janeiro e São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2006. Cf. especialmente “Os catadores e eu”, de Jean-Claude Bernadet, p. 25-27.
KLINE, T. Jefferson. Agnès Varda: Interviews. Jackson: University Press of Mississippi, 2014.
Ciné-Tamaris : cine-tamaris.fr/lunivers-de-cine-tamaris/la-bio-dagnes/.
RANCIÈRE, Jacques. Das artes mecânicas e da promoção estética e científica dos anônimos. In: A partilha do sensível. Estética e política. (2000) Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO experimental.org.: Editora 34, 2009, p. 45-51.


Aula 2: 12/8 (quinta-feira) - Sensível heterogêneo em Dom Quixote e Jacques Rancière (Daniela Blanco)
Essa aula pretende pensar a figura do cavaleiro errante Dom Quixote a partir do pensamento de Jacques Rancière em torno da noção de experiência sensível heterogênea. Analisaremos como a loucura do personagem não é ausência de razão, mas, sim, um outro modo de pensamento que recusa o binarismo cartesiano que coloca de um lado a razão, a clareza e a distinção e de outro o sensível, o erro e a loucura.

Bibliografia:
CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha. Primeiro livro. Tradução de Sérgio Molina. 3ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Editora 34, 2005.
RANCIÈRE, Jacques. La parole muette. Paris: Fayard/ Pluriel, 2010.
_________________. O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna. Tradução de Marcelo Mori. São Paulo: Martins Fontes, 2017a.
_________________. Políticas da escrita. 2ª ed. Tradução de Raquel Ramalhete, Laís Eleonora Vilanova, Ligia Vassalo e Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Editora 34, 2017b.
_________________. Les bords de la fiction. Paris: Éditions du Seuil, 2017c.
_________________. Sobre políticas estéticas. Tradução de Manuel Arranz. Barcelona: Servei de publicacions de la Universitat Autònoma de Barcelona, 2005.
_________________. A partilha do sensível. Tradução de Mônica Costa Netto. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2009.
_________________. “A comunidade estética”. Tradução de André Gracindo e Ivana Grehs. In: Revista Poiesis, Niterói, n. 17, 2011, pp. 169-187.


Aula 3: 17/8 (terça-feira) - O coro ou a turba raivosa em Elfriede Jelinek (Artur Kon)
O teatro hegemônico, isto é, o drama, tem como uma de suas bases formais a atribuição do texto e das ações a personagens individuais mais ou menos autônomas. Veremos como os textos “pós-dramáticos” da Nobel de Literatura Elfriede Jelinek rompem com esse princípio ao propor coros, de identidade mais ou menos indeterminada, para refletir sobre fenômenos políticos como as massas fascistas e neofascistas, a crise de refugiados e o papel da mulher em uma sociedade persistentemente patriarcal.

Bibliografia:
JELINEK, Elfriede. „Am Königsweg“. In: Schwarzwasser. Am Königsweg. Zwei Theaterstücke. Reinbeck: Rowohlt, 2020.
______________. Die Schutzbefohlenen. Site pessoal da autora, 2013. Disponível em: https://www.elfriedejelinek.com/fschutzbefohlene.htm
______________. Schatten (Eurydike sagt). Site pessoal da autora, 2015. Disponível em: http://elfriedejelinek.com/fschatten.htm
______________. „Wolken.Heim“. In: Stecken, Staub und Stangl. Raststätte. Wolken.Heim. Reinbeck: Rowohlt, 2015
HAß, Ulrike. Kraftfeld Chor: Aischylos Sophokles Kleist Beckett Jelinek. Berlim: Theater der Zeit, 2021.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. Tradução de Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
SARRAZAC, Jean-Pierre. Poética do drama moderno: De Ibsen a Koltès. Tradução de Newton Cunha, J. Guinsburg e Sonia Azevedo. São Paulo: Perspectiva, 2017.


Aula 4: 19/8 (quinta-feira) - Dissenso no teatro site-specific do Teatro da Vertigem (Antonio Duran)
A partir da exposição do percurso criativo da cena inicial do espetáculo Dire ce qu’on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas, realizado pelo Teatro da Vertigem, na Bélgica, em 2014, pretende-se pensar a figura do outro no campo da produção artística. Particularmente naquilo que a alteridade, em seu aspecto conflitivo e dissensual, como pensa o filósofo Jacques Rancière, é capaz de mobilizar, tanto no interior da criação, quanto na relação entre a própria criação e o público que dela participa.

Bibliografia:
DEUTSCHE, Rosalyn. Tilted Arc and the Uses of Public Space. (1992) Rpt. in Designing Cities: Critical Readings in Urban Design. Alexander R. Cuthbert (Org.) Malden, MA: Blackwell Publishing, 2003.
MOUFFE, Chantal. Práticas artísticas y democracia agonística. Barcelona, MACBA/UAB, 2007.
RANCIÈRE, Jacques. O dissenso. In: A crise da razão. Organizador: Adauto Novaes (Org.). São Paulo: Companhia das Letras,1996. Tradução de Paulo Neves.
__________________. Sobre políticas estéticas. Tradução de Manuel Arranz. Barcelona: Edición Museu d'Art Contemporani de Barcelona, 2005.
__________________. A partilha do sensível. Tradução de Mônica Costa Netto. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2009, p. 59.


Aula 5: 24/8 (terça-feira) - Pós-fotografia: a imagem numérica como o outro da imagem analógica a partir de Mishka Henner e Federico Winer (Cristina Pontes Bonfiglioli)
A Pós-fotografia assemelha-se à produção de fotógrafos-artistas das vanguardas históricas que não utilizavam a câmera para produzir imagens. Contudo, tem sua alteridade marcada pela presença do bit, unidade energética que fundamenta toda a possibilidade de computação. A materialidade da arte está em xeque ou se trata da redução da mesma à invisibilidade? Mishka Henner e Federico Winer são os fotógrafos artistas que ilustrarão essa abordagem.

Bibliografia:
COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto Alegre: Ed. UFRG, 2003.
FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar. Fotografia e artes visuais no período das vanguardas históricas Volume II. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2013.
FLUSSER, Vilém. Los gestos. Fenomenologia y comunicación. Barcelona: Herder, 1994.
_______. Filosofia da caixa preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo, Annablume, 2011.
MITCHELL, William J. The Reconfigured Eye. Visual Truth in the Post-Photographic Era. Cambridge, The MIT Press, 1992.
SHORE, Robert. Post-Photography: The Artist with a Camera. London: Laurence King Publishing, 2014.
SIMMEL, Georg. A Filosofia da Paisagem. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2009.
VARGAS, Milton. História da matematização da natureza. Estudos Avançados. São Paulo, v. 10, n. 28, Dez. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-4014199600… Acesso em 28 Ago. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141996000300011


Aula 6: 26/8 (quinta-feira) - Redução e Esgotamento em Samuel Beckett (Fabiano Viana)
Trataremos dos dissensos, ético-políticos, estético-filosóficos, em torno das obras de Samuel Beckett (1906-1989), tendo em nosso horizonte propostas interpretativas resolutamente distintas entre em si, porém não necessariamente excludentes, a saber: as leituras dos filósofos Theodor Adorno e Gilles Deleuze. Demonstraremos como as figurações da redução e do esgotamento na produção beckettiniana promovem diferentes modos de habitar um espaço artístico (e político) híbrido, no entanto com-partilhado, a partir do encontro de temporalidades heterogêneas entre si, complexificando a designação de uma presumida "situação da obra".

Bibliografia:
ADORNO, Theodor. Teoria Estética. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2008.
________________. Intento de entender “Fin de partida”. Notas sobre literatura. Obra completa 11. Madrid: Akal/Básica de Bolsillo, 2003. p. 270-310.
BECKETT, Samuel. Quad et autres pièces pour la télévision suivi de L’Épuisé, par Gilles Deleuze. Paris: Les Éditions de Minuit, 1992.
_______________. Fim de Partida. Tradução de Fábio de Souza Andrade. São Paulo: Cosac e Naify Edições, 2002.
_______________. The Grove Centenary Editions of Samuel Beckett: Novels I; Novels II; The Dramatic Works; The Poems, Short Fiction and Criticism. Nova York: Grove, 2006.
_______________. O Inominável. Tradução de Ana Helena Souza. São Paulo, Editora Globo, 2009.
DELEUZE, Gilles. Critique et clinique. Paris: Minuit, 1993.
_______________. Sobre o teatro: Um manifesto de menos. O esgotado. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro, Zahar, 2010.


Aula 7: 31/8 (terça-feira) - Fechamento: "O que pode o outro?"
A partir das diversas perspectivas da figura do outro apresentadas ao longo do curso, os ministrantes propõem a realização de um debate aberto à participação dos alunos, tendo como disparador a seguinte questão: o que pode o outro? O intuito dessa aula-debate é a construção de um caráter político dos temas apresentados em diálogo com o tempo presente.