Programa

Aula 1: política e literatura: uma relação secular
A aula inicial apresentará o curso, bem como os métodos utilizados. Explicará como funciona a estrutura, links, Google Sala de Aula, presenças e perguntas, apresentará o professor. Após a apresentação, uma introdução sobre as relações entre literatura e política, trabalhando conceitos básicos para o resto do curso como ideologia, posição política e mimésis. Por fim, uma discussão sobre realpolitik e o clássico de Machado de Assis, Teoria do medalhão.

Bibliografia principal:
ASSIS, M. de. Teoria do medalhão. Bauru: EDUSC, 2001.
AUERBACH, E. Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2021.
BOBBIO, N. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
Ricoeur, P. A ideologia e a utopia. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
Bibliografia complementar:
Maquiavel, N. O príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Aula 2: entre conservadorismos e reacionarismos
A segunda aula será dividida em duas partes. A primeira será acerca das ideologias conservadoras e reacionárias, seus pontos de tensão e suas semelhanças, colocando Edmund Burke e Joseph de Maistre em diálogo. A segunda, em diálogo do professor principal com a presença da pesquisadora convidada Camila Uchoa, doutoranda em Literatura pela PUC-Rio, buscará compreender como essas ideologias se alastram para além da política, e sua
consequente visão sobre a arte. Para tal, serão postas em diálogo as noções de Roger Scruton sobre e beleza tradicional, a visão Nazista sobre arte degenerada e a visão progressista das vanguardas do século XX. Havendo tempo, também se discutirá o caso Sylvia Serafim Thibau e sua relação com o conservadorismo/reacionarismo no cenário brasileiro pré-Revolução de 30.

Bibliografia:
BURKE, E. Reflexões sobre a Revolução em França. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.
MAISTRE, J. de. Considerations on France. London: McGill-Queen’s University Press, 1974.
SCRUTON, R. Beleza. São Paulo: Realizações Editora, 2013.
Bibliografia complementar:
BÜRGER, P. Teoria da vanguarda. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.
Hirschman, A. A retórica da intransigência: perversidade, futilidade, ameaça. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LINHA Direta. A primeira tragédia de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Rede Globo, 7 de junho, 2007.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=9CLofFOd7Mw&lc=z225whsqroznflt11acdp43a… .
REIS, G. S.; SCHARGEL, S. Mensageiros do apocalipse: a melancolia de direita em Edmund Burke e Joseph de Maistre. 2021.
SCHARGEL, S. Resenha de A retórica da intransigência, de Albert O. Hirschman. 2021.
SCHARGEL, S. Serafim. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=tqcZVVPrs9E&ab_channel=LetexPucRio&fbcl… . Aprox. 19 min.

Aula 3: de uma melancolia de esquerda: socialismo, comunismo e social-democracia
A terceira aula terá, na primeira parte, o professor Guilherme Simões Reis como convidado para o diálogo com Sergio Schargel. Guilherme é professor da Escola de Ciência Política da UNIRIO e doutor pelo IESP/UERJ com uma tese sobre socialismo e social-democracia. O debate será sobre as divisões da esquerda do início do século XX, a partir de pensadores como Bernstein, Kautsky e Rosa Luxemburgo. Já a segunda parte da aula trará à discussão duas obras: São Bernardo, de Graciliano Ramos, e Casei com um comunista, de Philip Roth.

Bibliografia principal:
BERNSTEIN, E. Socialismo evolucionário. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
Luxemburg, R. Reforma ou revolução?. Lisboa: Editorial Estampa, 1970.
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1984.
ROTH, P. Casei com um comunista. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Bibliografia complementar:
LENIN, V. Kautsky: a ditadura do proletariado; Lenin: a revolução proletária e o renegado Kautsky. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
TRAVERSO, E. Melancolia de esquerda: marxismo, história e memória. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2018.

Aula 4: feminismo negro decolonial sob uma perspectiva periférica
A quarta aula será ministrada em diálogo com um coletivo de professoras convidadas do mestrado de Ciência Política e do mestrado de Museologia da UNIRIO: Brenda Rocha, Caroline Spagnolo, Dâmaris Burity, Júlia Cabral e Flávia Costa. A aula tem como objetivo discutir a relação entre feminismos negros e decolonialidade tendo como espinha dorsal o pensamento feminista decolonial e dando prioridade às reflexões de pensadoras feministas negras dentro de contextos e experiências periféricas. Além disso, haverá diálogos com a teoria marxista, a partir de conceitos como dependência e ideologia dominante, e com as obras literárias Luz em agosto e Quarto de despejo.

Bibliografia principal:
BAMBIRRA, V. O capitalismo dependente latino-americano. Florianópolis: Insular, 2012. Capítulos I, II, III, XI.
DAVIS, A. “O legado da escravidão: modelos para uma nova feminilidade”, “Racismo, controle de natalidade e direitos reprodutivos”. In: Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo. 2016.
GONZALEZ, L. Por um feminismo afrolatinoamericano: ensaios, intervenções e diálogos. / organização Flavia Rios e Márcia Lima – 1a ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
JESUS, C. M. de. Quarto de despejo – diário de uma favelada. São Paulo: Francisco Alves, 1960.
VIEIRA, I. J. Torto arado. São Paulo: Todavia. 2019.
Bibliografia complementar:
FANON, F. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.
FAULKNER, W. Luz em agosto. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
MARX, K; ENGELS, F. “Feuerbach e a História”. In: A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

Aula 5: a maior invenção política do século XX: o Fascismo histórico
Por seu impacto histórico, o tema do fascismo permeará praticamente toda a segunda parte do curso. Nessa primeira aula, será tratado o fascismo como manifestação histórica, sua gênesis, sua formação, o que o diferencia de tudo o que havia existido na política antes e suas ramificações em outros países, como o Integralismo e o Nazismo. A interpretação marxista do fascismo. A segunda parte da aula trará um diálogo do professor principal com o pesquisador convidado Leandro Donner, mestre em Literatura pela PUC-Rio com uma dissertação sobre ressonâncias em Primo Levi e Roberto Bolaño e a experiência frente o totalitarismo.

Bibliografia principal:
BOLAÑO, R. A literatura nazista na América. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Levi, P. É isto um homem?. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1988.
MUSSOLINI, B. The political and social doctrine of fascism. 1932. Disponível em:
https://www.sjsu.edu/people/cynthia.rostankowski/courses/HUM2BS14/s0/Th….
PACHUKANIS, E. Fascismo. São Paulo: Boitempo, 2020.
SALGADO, P. O que é o Integralismo. São Paulo: Américas, 1933.
Bibliografia complementar:
GONÇALVES, L. P.; NETO, O. C. O fascismo em camisas verdes: do Integralismo ao neoIntegralismo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2020.

Aula 6: totalitarismo: um conceito fértil para distopias
A primeira parte da discussão se dobrará sobre Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt, com a intenção de conceitualizar a ideia de totalitarismo. Em consonante, será analisado o elo entre ideologia e distopia, bem como as razões pelas quais totalitarismos ficcionais são férteis em distopias. A segunda parte da aula colocará a obra de Arendt em diálogo com 1984, de George Orwell, e A nova ordem, de Bernardo Kucinski, para perceber como os traços do totalitarismo descrito por Arendt aparecem nessas ficções.

Bibliografia principal:
ARENDT, H. As origens do totalitarismo: totalitarismo, o paroxismo do poder. Rio de Janeiro: Editora
Documentário, 1978.
KUCINSKI, B. A nova ordem. São Paulo: Alameda, 2019.
LEPORE, J. A golden age for dystopian fiction. The New Yorker, New York, 05 jun. 2017. Disponível em:
https://www.newyorker.com/magazine/2017/06/05/a-golden-age-for-dystopia… .
ORWELL, G. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
SCHARGEL, S. A manhã renascer esbanjando poesia: papel da arte na luta contra o ur-fascismo e o anti-
intelectualismo. Dignidade Re:Vista, v. 4, n. 7. Disponível em: http://periodicos.puc-rio.br/index.php/dignidaderevista/article/view/923 .
SCHARGEL S. O sonho da ideologia produz monstros: fascismo, distopia e desumanização em Men against fire,
Black Mirror. Entrelaces, v. 10, n. 22. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/entrelaces/article/view/60887 .
Bibliografia complementar:
Catástrofe. In: BECKETT, S. Samuel Beckett: The complete dramatic works. Londres: Faber & Faber, 2006.
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MATOS, T. ‘1984’ e ‘A revolução dos bichos’: por que George Orwell é o único clássico na lista de mais vendidos de ficção no Brasil? G1, Rio de Janeiro, 20 mai. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2019/05/20/1984-e-a-revolucao-dos… .
SCHARGEL, S. BraZil. Revista Valittera, v. 1, n. 2. Disponível em:
https://periodicosonline.uems.br/index.php/valit/article/view/3886/3315 .

Aula 7: autoritarismos: as ditaduras latino-americanas
Contando com a presença do pesquisador convidado Breno Neves, mestrando em Literatura pela PUC-Rio, a ideia central da aula é traçar um breve panorama e diálogo entre os dois professores acerca dos temas e debates que têm marcado a produção historiográfica relativa aos estudos das narrativas ditatoriais que ocorreram na América Latina. Com o foco nos países do cone sul, dentre eles a Argentina, Brasil e Chile, iremos fazer também uma conexão com a literatura produzida no pós-ditadura, para analisar como as obras literárias servem não só de testemunho para as atrocidades vividas durante os tempos de autoritarismo, mas como uma forma de manutenção da memória, verdade e justiça para aqueles que ainda buscam reparações de suas perdas. Como, por exemplo, K. o protagonista do romance de Bernardo Kucinski, que de uma forma kafkiana busca encontrar respostas para o desaparecimento de sua filha pelas mãos do regime militar brasileiro, perpassando por uma série de nuances como o medo e a repressão.

Bibliografia principal:
AVRITZER, L. O pêndulo da democracia. São Paulo: Todavia, 2019.
FICO, C. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.
FIGUEIREDO, E. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017.
KUCINSKI, B. K. Relatode uma busca. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
Bibliografia complementar:
NAPOLITANO, M. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.
NOVARO, M.; PALERMO, V. A Ditadura Militar Argentina 1976-1983: Do Golpe de Estado à Reestruturação
Democrática. São Paulo-SP, Edusp.
ZAMBRA, Alejandro. Formas de voltar para casa. São Paulo: Cosac & Naify, 2014.

Aula 8: da necessidade de um conceito genérico do fascismo
A última aula retornará à discussão sobre fascismo, mas agora dando foco a fascismos contemporâneos. Serão colocados em diálogos algumas das principais interpretações do fascismo como conceito genérico, como a marxista, a liberal, a psicanalítica e a de Robert Paxton. Tomando a de Paxton como a interpretação mais completa, será discutido o fascismo como manifestação simultânea de quatro outros conceitos: reacionarismo, autoritarismo, nacionalismo e populismo. O fascismo como método de política, uma forma degenerada das democracias de massa contemporâneas. Os cinco estágios do fascismo de Paxton, do surgimento a entropia ou radicalização. O fascismo eterno de Umberto Eco. Por fim, na última parte do curso, essa base teórica será colocada em diálogo com duas obras: Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis, e Ele está de volta, de Timur Vermes.

Bibliografia principal:
ECO, U. O fascismo eterno. Rio de Janeiro: Record, 2018.
LACLAU, E. On populist reason. Londres: Verso, 2005.
LEWIS, S. Não vai acontecer aqui. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2017.
PAXTON, R. A anatomia do fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
VERMES, T. Ele está de volta. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
Bibliografia complementar:
ADORNO, T. et al. The authoritarian personality. New York: Science Editions, 1964.
DUCHIADE, A. Onda nacionalista reedita velha batalha contra o iluminismo, diz historiador israelense. O Globo, Rio de Janeiro, 26 mai. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/onda-nacionalista-reedita-velha-batalha-… .
ER IST WIE DER DA (Ele está de volta). Direção: David Wnendt. Produção: Lars Dittrich e Christopher Müller. Roteiro: Mizzi Meyer e David Wnendt. Fotografia de HannoLentz. Deutschland: Mythos, 2015. Disponível em:
www.netflix.com .
EVANS, S. Timur Vermes’ Hitler novel: can the Führer be funny? BBC, 01 mai. 2013. Disponível em:
https://www.bbc.com/culture/article/20130417-is-it-okay-to-laugh-at-hit… .
FREEDOM HOUSE. New report: Freedom in the world 2020 finds established democracies are in decline.
Disponível em: https://freedomhouse.org/article/new-report-freedom-world-2020-finds-es… .
LIMA, R. et al. Medo da violência e apoio ao autoritarismo no Brasil. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2017. Disponível em: http://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/medo-da-violencia-e-o-ap… .
ROTH, P. Complô contra a América. Trad. Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015.
REIS, G. S. Pela democracia, precisamos jogar fora o termo ‘populismo’. La Libertad de Pluma. Disponível em:
http://lalibertaddepluma.org/guilherme-simoes-reis-por-la-democracia-ne… .
RIEMEN, R. O eterno retorno do fascismo. Lisboa: Editorial Bizâncio, 2012.
SCHARGEL, S. “Fascism is once more at our doors, and we still refuse to see and treat it by its name: an interview with Cultural Philosopher Rob Riemen. Revista Cantareira, n. 33, 2020. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/cantareira/article/view/40711 .