1) Aula 1: As estátuas também morrem?
Análise do média-metragem As estátuas também morrem/Les statues meurent aussi (1953), dos cineastas Alain Resnais e Chris Marker. Restituição do debate entre a posição crítica dos cineastas, de um lado, e as ideias defendidas nos ensaios estéticos de André Malraux, de outro. Considerações sobre o caráter profundamente violento da instituição museológica e do mercado de arte. Exame da proposta política do filme, sobretudo no que concerne à sua denúncia da pilhagem colonial e do fetiche da assim chamada “arte negra”.
2) Aula 2: Desconstruindo a pirâmide humana
Análise do longa-metragem A pirâmide humana/La pyramide humaine (1961), dirigido por Jean Rouch. Avaliação do método de filmagem de Rouch e da postura discursiva por ele adotada ao retratar a amizade e o afeto interraciais. Crítica da concepção roucheana do “cinéma vérité”.
3) Aula 3: “De…”: genitivo ou ablativo?
Análise do filme A negra de…/La noire de… (1966), do realizador senegalês Ousmane Sembène. Leitura de excertos do conto homônimo de Ousmane Sembène. Comparação dos excertos literários com a adaptação cinematográfica. Apontamento de paralelos entre o longa e o romance epistolar Cartas a uma negra: narrativa antilhana, de Françoise Ega. Diálogo com o conceito de patriarcado compósito (MACÉ, 2014) para pensar a atuação do regime colonial sobre as dinâmicas relacionais e performativas de gênero.
4) Aula 4: Med Hondo, afropessimista
Análise do longa-metragem Ó, Sol/Soleil, Ô (1967), dirigido pelo mauritano Med Hondo. Confronto entre o filme e os ensaios Pele negra, máscaras brancas ([1952] 2020) e Os condenados da terra ([1961] 2022), de Frantz Fanon, e Afropessimismo (2021), de Frank B. Wilderson. Reflexão sobre o conceito de evento racial (SILVA, 2016) aplicado ao tempo cinematográfico.
Bibliografia:
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BRINK, Joram. Building bridges: the cinema of Jean Rouch. London: Wallflower, 2007.
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CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.
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DIDI-HUBERMAN, Georges. L’album de l’art à l’époque du Musée Imaginaire. Paris: Hazan, 2015.
EGA, Françoise. Cartas a uma negra: narrativa antilhana. São Paulo: Todavia, 2021
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020.
FERDINAND, Malcolm. Uma ecologia decolonial. São Paulo: Ubu, 2022.
FOFANA, Amadou; VETINDE, Lifongo. Ousmane Sembène and the Politics of Culture. Lanham: Lexington, 2014.
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GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
GUTBERLET, Marie-Hélène; KUSTER, Brigitta. On the Run: Perspectives on the Cinema of Med Hondo. [s. l.]: Archive Books, 2021.
GUTBERLET, Marie-Hélène; KUSTER, Brigitta (Org.). 1970-2018: Interviews with Med Hondo. [s. l.]: Archive Books/Arsenal – Institut für Film und Videokunst, 2021.
HEIDEL, Karl. Ethnographic film. Texas: Austin University of Texas Press, 2006.
HENLEY, Paul. The Adventure of the Real: Jean Rouch and the Craft of Ethnographic Cinema. Chicago/Londres: University of Chicago Press, 2010.
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MUDIMBE, V. Y. A Invenção da África. Gnose, Filosofia e a Ordem do Conhecimento. Portugal: Edições Pedago, 2013a.
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PÉGUY, Charles. “Réponse brève à Jaurès”. In: PÉGUY, Charles. Oeuvres en prose complètes. Paris: Gallimard, 1987.
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QUINCY, Quatremère de. Cartas a Miranda. Cotia: Ateliê Editorial, 2016.
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SEMBÈNE, Ousmane. Ousmane Sembene: Dialogues With Critics and Writers. Massachusetts: UMP, 1993.
SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
SILVA, Denise Ferreira da. Homo modernus: para uma ideia global de raça. Rio de Janeiro: Cobogó, 2022
SILVA, Denise Ferreira da. O evento racial ou aquilo que acontece sem o tempo [2016]. In: Histórias Afro-Atlânticas. v. 2. Antologia. São Paulo: MASP, 2018, p. 407-411.
VERGÈS, Françoise. Decolonizar o museu: Programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu, 2023.
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