Aula 1 - Da historicidade a espacialidade: o processo de reprodução, as representações e a tríade concebido-vivido-percebido
Ministrantes: Ana Fani Alessandri Carlos e Glória da Anunciação Alves
A obra a “produção do espaço” de 1974 desenvolve a proposta, já assinalada em obras anteriores - como em “ do rural ao urbano” , “ O Direito à cidade” e a “ Revolução urbana” – de que a segunda metade do séc. XX anuncia a passagem da historicidade à espacialidade com a predominancia na explicação da sociedade, do espaço sobre o tempo. Nessa perspectiva, a dialética do tempo dá lugar àquela do espaço. Esse movimento inaugura a problemática urbana e refere-se ao desenvolvimento da sociedade urbana saída do movimento da urbanização induzida pela industrialização. Desse modo, a produção do espaço ganha centralidade na compreensão do mundo moderno. O conhecimento da produção do espaço, surge, assim, das transformações do mundo da práxis abalando as possíveis certezas. Nesse plano, a relação entre teoria e prática ganham um novo contorno, definidos no seio do modo de produção em sua expansão no espaço mundial.
No livro a Produção do Espaço, que este ano completa 50 anos de sua primeira edição, Lefebvre trabalha com a tríade concebido/percebido/vivido para, naquele momento, discutir o processo de produção e reprodução do espaço, bem como de suas representações, impactando o cotidiano das pessoas na sociedade. Nossa proposta, nesta segunda parte da aula, é, a partir do contexto atual, discutir como essa tríade Lefebvriana ajuda a compreender a realidade atual apontando caminhos para a transformação social, procurando trazer ao debate possibilidades para pensarmos outros caminhos de construção socioespacial.
Aula 2 - A produção do espaço: do espaço contraditório ao espaço diferencial
Ministrantes: Danilo Volochko e Rafael Faleiros de Padua
A proposta da aula se baseia nas seguintes preocupações iniciais: 1) Do ponto de vista do processo de construção do conhecimento: a busca de uma geografia anticapitalista partindo dos elementos da teoria marxista e de uma leitura dialética do espaço/da cidade, tendo a produção do espaço como eixo teórico-conceitual de construção de um conhecimento crítico sobre o espaço urbano (um conhecimento menos fragmentado, especializado e funcionalizado); 2) Do ponto de vista da análise socioespacial como fio condutor da análise da realidade: uma leitura da atualidade, da centralidade e da complexidade da relação entre a produção do espaço urbano, a reprodução do capital, de relações de poder e das relações sociais de reprodução da vida.
Essa preocupação ilumina o caso brasileiro, onde nas cidades a produção e o controle de espaços definem disputas e territórios de atuação do setor imobiliário, do mundo do crime, dos movimentos sociais e das ações do Estado. Seguindo estas orientações iniciais, buscaremos na aula desenvolver a possibilidade de apreensão da produção do espaço destacando a dimensão da
utopia, sinalizando uma tríade produção do espaço-utopia-espaços diferenciais. Tal tríade pode revelar a centralidade da dimensão utópica como eixo da produção teórica, histórica e política do autor, que contribui (decisivamente) para a construção dialética e crítica do conhecimento sobre a realidade atual, e que também pode apontar transformações concretas e possíveis dessa realidade. Outra noção potente para pensarmos a radicalidade concreta dessa dimensão é a noção de necessidade, articulada àquela de desejo, pois tais noções se revelam como mediação entre o espaço contraditório e o espaço diferencial. Este caminho pode nos habilitar a refletir que no universo das precarizações, nem tudo é precarização. O pensamento não pode destituir as lutas, as resistências, as conquistas, mesmo que modestas, que moradores e movimentos fazem a vida toda. Sem fetichizar e romancear sujeitos e processos de luta, mas também sem desprezá-los, pois tal desprezo pode acabar ajudando a deslegitimar as suas ações. Esse movimento adota como referência os capítulos “5: O espaço contraditório” e “6: Das contradições do espaço ao espaço diferencial” do livro A Produção do Espaço.
Aula 3 – Do espaço abstrato à produção do espaço: lógica formal e dialética frente à problemática do planejamento
Ministrantes: César Simoni Santos e Elisa Favaro Verdi.
A produção do espaço não pode ser confundida ou reduzida aos processos ligados estritamente à produção banal de objetos (ainda que fixados ao solo), aí inclusa à produção da indústria da construção e, mesmo, as atividades construtivas mais prosaicas, muitas vezes definidas como artesanais. Não se trata disso! O urbano contemporâneo é meio e produto da autonomização do planejamento a partir do espaço construído como espaço abstrato, mas é também a resistência dos conteúdos sociais, a inadequação das exigências da vida, a incompatibilidade da diferença frente aos ímpetos homogenizantes, seletivos e redutores da lógica formal e da forma pura. É nesse âmbito que se definem as contradições do espaço: é somente diante do reconhecimento de que a dimensão formal, com propensão a se autonomizar e se impor sobre a realidade dos conteúdos, não é uma abstração no sentido convencional. Ela está na base daquilo que Lefebvre chama de “abstração concreta”. Ela se impõe sobre a realidade como forma espacial e entra em contradição com os conteúdos sociais e históricos do espaço. Essa dialética propriamente espacial está no fundamento da compreensão das contradições que envolvem o planejamento nos dias de hoje.
Aula 4 – As contradições do espaço: o momento da mobilização do espaço no cerne da reprodução econômica
Ministrantes: Gustavo Teixeira Prieto e Madisson Yojan Carmona Rojas.
A descoberta da produção social do espaço possibilitou um salto teórico na compreensão da sociedade contemporânea na medida em que atinge a dimensão espacial pelos processos de acumulação do capital e pela racionalidade do Estado. Uma possível leitura da obra de Henri Lefebvre, em especial A produção do espaço, aponta a passagem do espaço social à produção do espaço por sua inserção, simultaneamente, nas tramas do processo de reprodução do capital e da sociedade. Ademais, no coração da noção da produção do espaço, encontra-se a passagem das contradições no espaço para contradições do espaço, que se revelam nos novos conteúdos da relação centro e periferia. Para além da fetichização das formas espaciais, Lefebvre auxilia o descortinar da raridade do espaço e seus conteúdos contemporâneos: a homogeinização pela propriedade privada, as lutas pelo espaço e pela cidade e a segregação socioespacial. Partindo da discussão da perspectiva dos momentos espaciais, esta intervenção também procura compreender os mecanismos de atuação da racionalidade capitalista no espaço e o papel que o quotidiano desempenha diante disso.