Aula 1: Apresentação do curso e contextualização
A palavra como demarcação de território - um exercício de memória e construção de futuros em retorno ao ventre, de Jr. Bellé.
A aula apresentará o livro de poesia narrativa de Jr. Bellé, retorno ao ventre, no qual o autor busca reconstruir a memória familiar e coletiva a partir da escuta de sua tia Petrolina, que lhe revela a ascendência indígena apagada da história da família, reflexo também do apagamento indígena no estado do Paraná, onde se situa o livro. Por meio da obra, discutiremos a importância da palavra nos contextos indígenas e em que medida essa ferramenta se articula na luta por reconhecimento de direitos e demarcação de territórios.
Aula 2: Memórias de ontem e hoje na poética de Edimilson de Almeida Pereira
Neste encontro, serão discutidas questões relativas à religiosidade popular, saberes tradicionais e memórias familiares das populações negras brasileiras; bem como a produção de memória do tempo presente, a partir de temas como política e exílio. Para tanto, leremos poemas selecionados dos livros qvasi e Melro, ambos do escritor Edmilson de Almeida Pereira. Como aporte teórico para a aula, serão mobilizados conceitos de Leda Maria Martins e também haverá o diálogo com outras obras de cunho ensaístico e etnográfico do próprio Edmilson de Almeida Pereira.
Aula 3: Águas que vão, águas que vêm: apagamento e construção da memória
Nesta aula, conheceremos um pouco da escritora são-tomense Olinda Beja e de sua vasta produção literária e nos aprofundaremos em seu belíssimo caderno de poemas Água Crioula, que nos faz refletir sobre como os silenciamentos moldam a memória e a história. Refletiremos como a autora resgata um tempo que lhe foi roubado, recuperando lembranças familiares e tudo que deixou de viver da história e cultura de seu país. A partir da leitura de alguns poemas como Ancestralidade, Requiem ao mar do esquecimento e Ode ao tempo, identificaremos as marcas do tempo e da memória, construídas pelo olhar daquela que vivenciou a diáspora e compreendeu este fenômeno por um olhar íntimo e profundo.
Aula 4: Morrer de nostalgia: crônicas de uma escritora “afropeia”
Nesta aula, investigaremos como a escritora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida mobiliza a memória familiar, o arquivo íntimo e a experiência para pensar os deslocamentos como construção subjetiva, histórica e racializada. A partir da leitura comparada das crônicas “Morrer de nostalgia”, “Torre do tombo” e “A minha grande biblioteca são os meus antepassados” – todas publicadas na Revista 451 – discutiremos como a autora formula uma estética de perdas que opera em trânsitos entre Angola, Portugal e outros espaços da diáspora.
Aula 5: De linha e de rio: vozes de mulheres negras
A aula propõe uma reflexão sobre como a escrevivência é capaz de forjar narradoras que entrelaçam lirismo e pesquisa histórica para contar memórias familiares que se desdobram em lembranças de todos nós: as memórias de um país. O ponto de partida está bordado na apresentação do romance Apolinária, de Bianca Santana, de onde brotam os fios do rio São Francisco, que levam e trazem as histórias de mulheres negras que tecem vínculos entre passado e presente para semear futuros.
Referências:
ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. Pintado com o pé. Lisboa: Relógio d’água, 2019.
ALMEIDA, Miguel Vale de. Um Mar da Cor da Terra: Raça, Cultura e Política da Identidade. Lisboa, Celta, 2000.
ALMEIDA, Migual Vale de. Ninguém imagina de verdade um português negro. Portuguese Literary & Cultural studies (PLCS), v.35-35, p.32-41, 2021.
ASSMANN, Jan. Communicative and cultural memory. In: ERLL, Astrid; NÜNNING, Ansgar (Ed.). Cultural memory studies: an international and interdisciplinary handbook. Berlin; New York: De Gruyter, 2008. p. 109-118.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. Tradução Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
BHABHA, Homi. O local da cultura. tradução de Myriam Avila, Eliane Livia reis, Glauce Gonçalves. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1998.
BEJA, Olinda. Água Crioula. Coimbra: Pé de Página Editores, 2007.
BEJA, Olinda. Contos de São Tomé e Príncipe: histórias da avó Flindó. Itapira, SP: Estrela Cultural, 2023.
BEJA, Olinda. Kilêlê: a dança sagrada do falcão. Quissamã: Revista África e Africanidades; Lisboa: Rosa de Porcelana, 2023.
BEJA, Olinda. 15 dias de regresso. Coimbra: Pé de Página Editores, 2007.
BRASIL. Lei 11.645/08, de 10 de março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 03 nov. 2025.
BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Quem canta o Estado-nação?: língua, política e pertencimento. Tradução de Vanderlei J. Zacchi e Sandra Goulart Almeida. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2018.
DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de Literatura Afro-brasileira. Terceira Margem, Rio de Janeiro, n. 23, p. 113-138, jul-dez, 2010. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/tm/article/view/10953. Acesso em: 03 nov. 2025.
CHAVES, Rita. O passado presente na literatura africana. Via Atlântica, São Paulo, n. 7, p. 147-161, 2004. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001416450 Acesso em: 03 nov. 2025.
CUTI (Luiz Silva). Literatura Negro-Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.
DE LA CADENA, Marisol. Seres-terra: cosmopolítica em povos andinos. Tradução: Caroline Nogueira e Fernando Silva e Silva. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2024.
GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid Knipel Moreira. 2ª edição. São Paulo, Editora 34, 2012.
GOMES, N. P. de M. & PEREIRA, E. A. Assim se benze em Minas Gerais. Juiz de Fora, Mazza/EDUFJF, 1989.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução de Adelaine La Guardia Resente [et al.]. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
HALL, S. "O Ocidente e o Resto: Discurso e Poder". Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, [S. l.], v. 56, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/30023. Acesso em: 4 nov. 2025.
HARTMAN,, Saidiya. Perder a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021.
JR. BELLÉ. retorno ao ventre: Mỹnh fi nugror to vẽsikã kãtĩ. Tradução para o kaingang: André Luís Caetano. São Paulo: Elefante, 2024.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão et al. 7. ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016.
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 2021.
MARTINS, Leda. Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras (Santa Maria), v. 25, p. 55-71, 2003.
MATA, Inocência; FAZZINI, Luca; MAGALHÃES, Lucas Breda; SARTESCHI, Rosangela (orgs.). Escritas afrodescendentes em diálogos atlânticos. Teresina: Cancioneiro, 2025.
OLIVEIRA, Pedro Rocha de. Discurso filosófico da acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2024.
PEREIRA, Edimilson de Almeida. Qvasi segundo caderno. São Paulo: Editora 34, 2017.
PEREIRA, Edimilson de Almeida. Melro. São Paulo: Editora 34, 2022.
PEREIRA, Edimilson de Almeida. A saliva da fala: notas sobre a poética banto-católica no Brasil. São Paulo: Fósforo Editora, 2023.
PEREIRA, Edimilson de Almeida. Entre Orfe(x)u e Exunouveau: análise de uma estética de base afrodiaspórica na literatura brasileira. Fósforo Editora, 2022.
SHARPE. Christina. No vestígio: negridade e existência. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
SANTANA, Bianca. Apolinária. São Paulo: Fósforo Editora, 2025.
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/PISEAGRAMA, 2023.

.png)
