Programa

Aula I: cinema, corpo (perspectivismo), território.
As sombras projetadas nas paredes da caverna de Platão e as pinturas rupestres de Chauvet reveladas no filme A Caverna dos Sonhos Esquecidos, de Werner Herzog, desenhadas há 30 mil anos, são imagens em movimento. Quem as pintava criava, formulava, escrevia, gravava. O desejo de registrar as imagens em movimento precede a técnica inventada do cinematógrafo, o desejo do cinema remonta há milhares de anos e não mais desde o invento de uma máquina capaz de registrar e projetar instantes, seu marco técnico.
Imagem é, indica Vilém Flusser em Filosofia da Caixa Preta, uma superfície. Um movimento captado pela visão humana e especialmente nos dias de hoje extraído de seu decurso (para o nosso olhar) por aparelhos e artefatos, é sobre algo que não se vê que trata a imagem. Os cinemas indígenas nos trazem imagens de dentro dos territórios, teko’h para os Guarani, um território marcado em seus corpos que permanentemente se relacionam e transformam.

Bibliografia:
BENITES, Sandra Ara. Viver na língua guarani nhandeva (mulher falando). Dissertação de mestrado em antropologia social – Museu Nacional. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018.
FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. 1ª edição – São Paulo: Annablume editora, 2011.
MACHADO, A. Pré-cinemas & pós-cinemas (1997). 5ª edição – Campinas: Papirus, 2008.
TAYLOR, A. C. & VIVEIROS DE CASTRO, E. Um Corpo Feito de Olhares (Amazônia) (2006). Revista de Antropologia da USP, v.62, n.3.

Filmografia:
A caverna dos sonhos esquecidos (documentário, 90’, 2010), Werner Herzog
O verbo se fez carne (experimental, 6’28’’, 2019), Ziel Karapotó

Aula II: do registro etnográfico aos cinemas indígenas.
O reverso do filme etnográfico, a contra antropologia, os cinemas indígenas reverteram uma lógica, de objeto a sujeito enunciativo. De Luiz Thomas Reis e Rondon ao Vídeo nas Aldeias. Do Vídeo nas Aldeias aos Cinemas indígenas. A câmera como guardiã de memórias no cinema guarani (Alberto Álvares).

Bibliografia:
ÁLVARES, Alberto. Da Aldeia ao Cinema: o encontro da imagem com a história (2018). Formação Intercultural de Educadores Indígenas – FIEI. Universidade Federal de Minas Gerais.

Filmografia:
Filmes da comissão Rondon (anos 1910-1920)
A Arca dos Zo’é (documentário, 23’, 1993), Vincent Carelli e Dominique Gallois
O Último Sonho (documentário, 60’, 2019), Alberto Álvares

Aula III: artefatos (flecha), aparelhos (câmera) e um cinema cosmopolítico.
Aos operadores materiais de agência nas socialidades indígenas, como adornos, artefatos, pinturas, agora incorporam-se a câmera e o dispositivo cinematográfico. Deste modo, criar imagens sobre a vida e o mundo, esta Terra-floresta, como diz Davi Kopenawa, é uma forma de transmitir aos não indígenas cosmovisões e os impactos das ações humanas sobre Gaia.

Bibliografia:
GELL, Alfred. Arte e agência (1998). São Paulo: Ubu Editora, 2018.
KOPENAWA, D. & ALBERT, B. A Queda do Céu: palavras de um xamã Yanomami (2010). Tradução: Beatriz Perrone-Moisés. 1ª edição – São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2015.
STENGERS, Isabelle. A proposição cosmopolítica. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 69, p. 442-464, abr. 2018.

Filmografia:
Imbé Gikegü – Cheiro de Pequi (documentário, 35’, 2006), Takumã Kuikuro
Bicicletas de Nhanderu (documentário, 48’, 2011), Ariel Ortega e Patrícia Ferreira